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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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empreendedora é, portanto, uma ciência intrinsecamente “comunicativa”<br />

“TRUST”<br />

• O pacto social de uma suposta era de ouro, de harmonia entre “ciência e sociedade”, de delegação<br />

confiante incondicional, se rompeu. Hoje há uma “crise de confiança” por parte da população sobre<br />

assuntos tecnocientíficos. Por isso, urgente não é tanto difundir o conhecimento sobre C&T, quanto<br />

recuperar a confiança. Sem confiança não há apoio da população, e sem apoio a ciência pode estar em<br />

apuros...<br />

• O cidadão é ora “usuário”, ora “cliente”, ora “acionista”, da <strong>tecnociência</strong>. Portanto, todas as partes em<br />

jogo na <strong>tecnociência</strong> (instituições científicas, laboratórios tecnológicos, pesquisadores, empresas etc.)<br />

devem, como uma empresa, fornecer “recibos”, gerir orçamentos de forma mais transparente etc., para<br />

garantir apoio e confiança social (veja “ACCOUNTABILITY”, “TRUST”, “SELLING SCIENCE”).<br />

“ACCOUNTABILITY”<br />

• Sendo “empreendedoras”, obedecendo a uma racionalidade baseada em cálculos específicos (resposta in<br />

real time às demandas dos clientes, produtividade, “mini-max”, custos versus benefícios, eficiência etc.),<br />

ciência e tecnologia têm algumas exigências típicas das grandes empresas da atualidade:<br />

“responsabilidade social” (accountability), “robustez” do conhecimento produzido, “transparência” (veja<br />

cap. 1).<br />

• A comunicação é um dever. Não somente no sentido da pedagogia universal iluminista, mas também por<br />

razões instrumentais: quem não comunica, não está “prestando conta” para os financiadores.<br />

“SELLING SCIENCE”<br />

• O cientista é um empreendedor, e a ciência como um todo é uma marca (Gieryn, 1987). C&T, embora<br />

tenham gozado até hoje de relativa autonomia, precisam agora publicar, e também publicizar. Grupos,<br />

instituições, atores ligados à P&D devem saber vender seu peixe. Ciência e tecnologia devem atuar<br />

específicas práticas de marketing (para legitimar métodos, experimentos, produtos, teorias etc.) e de<br />

branding (para enverdecer sua imagem). Devem informar, seduzir e recrutar para:<br />

a) obter apoio e legitimação, conseguir recursos, incentivar um público de pessoas fascinadas e dispostas a<br />

consumir mercadorias e serviços tecnocientíficos;<br />

b) atrair jovens para as carreiras tecnocientíficas. Parte do sucesso da nação na concorrência internacional<br />

depende da capacidade de recrutamento de produtores ligados à <strong>tecnociência</strong>.<br />

c) formar assalariados tecnocientíficos especializados, em treinamento permanente, flexíveis, como requer<br />

o atual regime de acumulação;<br />

d) garantir a existência de consumidores benevolentes da <strong>tecnociência</strong>, que desejem e apreciem<br />

conhecimentos e produtos, e saibam usá-los;<br />

e) informar e seduzir para demonstrar que a P&D são cruciais, que o dinheiro está sendo bem gasto, e que é<br />

preciso de mais dinheiro (chegar a 3% do PIB, por exemplo: o objetivo da União Européia).<br />

• A inovação não se torna automaticamente produto de sucesso: ela deve levar em conta a demanda. Até<br />

mesmo a produção de conhecimento, já em sua fase “básica”, deve levar em conta necessidades e<br />

preocupações da sociedade (e do mercado): pesquisa num “contexto de aplicação” (veja cap. 1)<br />

• Informar e recrutar serve para poder influir na tomada de decisões políticas.<br />

• Vender para finalidades internas: na GLOBAL SCIENCE, transdisciplinar, internacionalizada, para ganhar<br />

prestígio e recursos ocorre comunicar com colegas da própria e de outras disciplinas. A mídia passa a ser<br />

uma oportunidade para ter visibilidade.<br />

• Teorema da tecnocracia iluminada: mais comunicação = mais interesse = mais apreciação = mais apoio. O<br />

que tende a significar também que comunicação = propaganda...<br />

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