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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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o apoio da maioria da população, uma coalizão de setenta organizações lança um ataque sem<br />

precedentes à pesquisa biotecnológica. A “Iniciativa de Proteção dos Genes” (GPI), integrada<br />

por “Greenpeace-Suiça”, “WWF-Suiça”, “Pro Natura”, “Médicos para a Proteção do Meio<br />

Ambiente” e dúzias de ONGs ambientalistas e religiosas, não quer apenas uma<br />

regulamentação ou restrição no uso dos OGMs na agricultura, na medicina, na indústria –<br />

como acontecera no caso de protestos em outros países da Europa. A GPI pede muito mais:<br />

que a política científico-tecnológica suíça em temas de biotecnologia seja estabelecida por<br />

meio de um referendum. Aliada com o Partido Verde e com parte dos social-democratas, a<br />

Iniciativa recolhe mais de cento e dez mil assinaturas (muitas, num país que tem o tamanho da<br />

ilha de Marajó) e exige uma consulta popular sobre a possibilidade de:<br />

- proibir a produção, a compra e a transferência de qualquer animal geneticamente modificado,<br />

inclusive para laboratórios;<br />

- proibir a liberação de qualquer OGM no meio ambiente, inclusive em campos experimentais;<br />

- proibir o patenteamento de animais ou plantas geneticamente modificados ou de qualquer<br />

parte deles, bem como processos e produtos derivados da modificação genética.<br />

Além disso, a GPI pede que os pesquisadores que pretendem usar métodos ligados à<br />

engenharia genética sejam obrigados a demonstrar sua “utilidade, segurança e ausência de<br />

alternativas”, além de garantir a “responsabilidade ética” de seus projetos de pesquisa. Na<br />

prática, o que está em jogo é o futuro da indústria biotecnológica suíça, uma das mais<br />

importantes do mundo 211 .<br />

A coalizão começa uma campanha midiática de grande porte, que culmina em 1998<br />

quando o referendum é finalmente anunciado. Inicialmente, a GPI parece contar com o apoio<br />

de oitocentas mil pessoas. Os surveys pré-voto dizem que 62% dos suíços é decididamente<br />

contra a engenharia genética. A batalha que segue é repleta de golpes. Um slogan da GPI é<br />

deste teor: “Eles querem refazer a Criação. Nós, preferimos o Original”. Imagens de alto<br />

211 Em Basiléia está sediada a Novartis, gigante surgido em 1996 da fusão entre Sandoz Laboratories e Ciba-Geigy,<br />

ambas corporações suíças. A fusão foi considerada, na época, uma das maiores da história. A Sandoz – famosa entre<br />

outros feitos por ter sintetizado o LSD em 1938 (e descoberto sua propriedades “lisérgicas” em 1943) – era dona da<br />

Gerber (produtora de comida para bebês) e da Wander (produtora do Ovomaltine). A Ciba-Geigy surgira em 1970, da<br />

fusão entre J.R. Geigy e Ciba. Produzia remédios, tintas e outras substâncias químicas. Como multinacional<br />

farmacêutica, Novartis produz uma dúzia de remédios que têm recorde de venda mundial, tais como o Voltaren<br />

(diclofenac), o Diovan (valsartan), o Glivec (imatinib mesilato) e o Ritalin (metilfenidato) tristemente famoso por seu<br />

(ab)uso em crianças hiperativas. Como corporação biotecnológica, a Novartis se juntou com <strong>As</strong>traZeneca para criar<br />

Syngenta, uma das multinacionais líderes em sementes transgênicas (e patentes). Também comprou a Chiron<br />

Corporation, que produz vacinas a partir de OGMs.<br />

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