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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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colégio 84 dos apaixonados pela scientia funcionava por meio da maior e mais livre possível<br />

circulação de informação. Tal compartilhamento ocorria principalmente por meio de trocas<br />

epistolares (especialmente nos séculos XVII e XVIII), de encontros em congressos<br />

(especialmente nos séculos XIX e XX), da publicação de artigos (Beretta, 2002; Rossi, 2000).<br />

Os cientistas tendiam a trabalhar sozinhos ou com seus discípulos.<br />

Nas últimas três décadas, porém, a lógica da concorrência, do publish or perish, da<br />

busca de recursos mais diversificados (governamentais ou não), levou a uma mutação na<br />

tipologia da colaboração entre cientistas, caracterizada pela interdisciplinaridade, a<br />

internacionalização e a colaboração em rede: uma transformação bastante parecida com aquela<br />

sofrida pela produção de mercadorias. No mundo, o número de papers científicos escritos por<br />

um só autor caiu de 50% em 1981 para 21% em 1995, enquanto aqueles escritos em co-autoria<br />

internacional passaram de 17% para 29% (veja Apêndice I). Quem tiver a curiosidade de<br />

descobrir quem, de fato, seqüenciou pela primeira vez o genoma humano, deverá ter uma certa<br />

paciência em contar: o paper do grupo da Celera Genomics é assinado por cerca de duzentos e<br />

setenta autores 85 , enquanto o genoma “público”, identificado pelo Human Genome Project, é o<br />

orgulho de cerca de 3000 cientistas e técnicos do mundo inteiro 86 . Coisa parecida acontece<br />

com a detecção ou a descoberta de partículas elementares nos grandes aceleradores europeus,<br />

japoneses ou estadunidenses, bem como em muitos trabalhos experimentais de astrofísica,<br />

neurociência, biologia molecular.<br />

Para John Ziman (2000) a coletivização da pesquisa é elemento característico da<br />

ciência hodierna. Uma série de fatores, alguns intrínsecos à própria ciência (especialização e<br />

divisão do trabalho crescente, necessidade de instrumentos tecnológicos cada vez mais<br />

complicados), impulsiona a pesquisa “em direção a modos mais coletivos de ação” (Ziman,<br />

2000: p. 69). Apesar de esta transição ser mais visível nas áreas da chamada Big Science, ela<br />

afeta a ciência como um todo, e, de acordo com Ziman, é um “desenvolvimento cultural<br />

natural”:<br />

84 Invisible college era o nome da associação informal que foi precursora da Royal Society. Fundado na década de 1640<br />

por intelectuais e cientistas do calibre de Robert Boyle, John Wallis, Robert Hooke, Christopher Wren, o “colégio” se<br />

tornou símbolo da nascente ciência experimental. Na mesma época, se difundiu na Europa a idéia de um colégio<br />

invisível de filósofos e cientistas trocando teorias e descobertas por meio de uma rede comunicativa informal<br />

(epistolários, troca de livros com anotações pessoais etc.).<br />

85 “The Sequence of the Human Genome”, Science, vol. 291, n. 5507, 16 Fev 2001: p. 1304-1351.<br />

86 “A physical map of the human genome”. Nature, vol. 409, 15 Fev 2001: p. 934-941.<br />

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