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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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diferentes elementos destes retratos da <strong>tecnociência</strong> permite enxergar neles diferentes facetas e<br />

enunciações de um mesmo discurso, emergindo de condições de possibilidades que são<br />

intrínsecas ao regime de verdade e de governamentalidade da atualidade. <strong>As</strong> análises sobre a<br />

<strong>tecnociência</strong> são parte, assim, do substrato que cria a própria possibilidade da <strong>tecnociência</strong><br />

neoliberal. Todas falam, como veremos, de imanência, de governo, de feedback e apropriação<br />

mútua entre esferas que foram antigamente consideradas separadas.<br />

1.10. O “Modo 2” de produção de conhecimento<br />

De acordo com Michael Gibbons, Helga Nowotny e colegas, no final do século XX emergiu<br />

um “novo modo de produção do conhecimento” (Gibbons et al., 1994) ou até uma “nova<br />

sociedade” (Nowotny et al., 2001: p. 4). Tal mudança no “contrato social entre ciência e<br />

sociedade” levou a uma nova organização do trabalho científico e tecnológico, um novo ethos<br />

para pesquisa e novos critérios epistemológicos para avaliar a qualidade do conhecimento<br />

produzido.<br />

A ciência moderna, afirmam esses autores, floresceu em parte graças a um acordo<br />

estável entre seus praticantes e o resto da sociedade:<br />

O contrato entre ciência universitária e sociedade esteve baseado tradicionalmente na<br />

idéia de que as universidades forneceriam pesquisa e ensino em troca de recursos<br />

públicos e de um grau relativamente elevado de autonomia institucional; sob este<br />

contrato, as universidades [...] deveriam gerar conhecimento de base [...] e treinar a<br />

força de trabalho altamente qualificada [...]. Entretanto, as fronteiras entre ciência<br />

universitária e industrial e entre pesquisa de base e aplicada estão<br />

desaparecendo. (Gibbons, 1999; trad. e grifos meus)<br />

Ao longo de boa parte do século XX, estabelecimentos de pesquisa do governo e laboratórios<br />

industriais operaram de forma relativamente independente, desenvolvendo suas próprias<br />

práticas e modos de comportamento. Recentemente, porém, “tal impermeabilidade<br />

institucional relativa começou a tornar-se porosa”. A ciência tradicional, situada<br />

fundamentalmente nas universidades, era criada no interior de um contexto disciplinar, com a<br />

função dominante de buscar o conhecimento “por si mesmo”, e caracterizada pela separação<br />

entre descoberta e aplicação. Isso é o que os autores chamam de “Modo 1” de produção de<br />

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