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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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da constituição de um saber científico, de um saber-fazer técnico e de modos de produção que<br />

estejam além desta <strong>tecnociência</strong> interna à governamentalidade neoliberal?<br />

Aceleração acelerada na fronteira sem fim [Quarta suspeita]<br />

Bactérias inoculadas numa placa de Petri (cap. 1) contendo alimento suficiente se reproduzem<br />

e difundem com aceleração acelerada. Exponencialmente. Quando o alimento acaba, todas<br />

morrem. Espécies vivas introduzidas em um novo ambiente, ou que conseguem alcançar<br />

novos territórios, penetrar fronteiras até então invioladas, podem encontrar um ecossistema<br />

onde não existem, ainda, potenciais predadores. Reproduzem-se exponencialmente. Até acabar<br />

o alimento, ou até um predador aparecer.<br />

O capitalismo funciona pelo crescimento, pela expansão, pela aceleração. Precisa<br />

colonizar territórios sempre novos, criar novas mercadorias, produzir velhas mercadorias com<br />

tecnologias mais eficientes ou, ainda, vendê-las sob novos rótulos e pela invenção de novas<br />

necessidades.<br />

Quando havia se estendido sobre uma parte relativamente pequena do planeta,<br />

apropriado uma fração pequena dos recursos físicos, o capitalismo podia facilmente colonizar<br />

novas fronteiras (abrir novos mercados, criar novos produtos, consumir novos recursos,<br />

dominar novas regiões através do imperialismo e do colonialismo). Agora, os recursos naturais<br />

e os territórios aparecem em sua finitude e a narrativa tecnocientífica da fronteira sem fim<br />

assume um valor profético, salvacionista para um capital que precisa inventar maneiras de<br />

transformar em enclosures até mesmo os commons mais abstratos e imateriais, precisa<br />

patentear e chamar de invenções achados nanoscópicos ou produções simbólicas.<br />

Cada redobrar-se sobre si mesmo da vida, do trabalho, da linguagem pode<br />

corresponder ao abrir-se de perspetivas e linhas de atuação (simbólicas, afetivas, microfísicas<br />

etc.) ainda não colonizadas, não cercadas, não confeccionadas para ser vendidas. A<br />

cientificidade operatória contemporânea pode atingir e manipular, com a biotecnologia, a<br />

nanotecnologia, as tecnologias da inteligência artificial e da informação, o lugar onde vida,<br />

materialidade e linguagem se “recurvam sobre si” (Deleuze, 2006: p. 140). “Informação” e<br />

“código” são senhas de acesso para a nova fronteira da colonização capitalista.<br />

Parte da surpreendente flexibilidade do capitalismo, sua capacidade de incorporar<br />

rapidamente instâncias e processos contraditórios – e até mesmo enunciados e práticas<br />

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