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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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3.11 Luzes da razão. Razão das Luzes.<br />

A Ilustração, os acontecimentos e as rupturas epistêmicas fundamentais que ocorrem no final<br />

do século XVIII acarretam também elementos discursivos que se tornam importantes para o<br />

entrelaçamento de inexorabilidade da <strong>tecnociência</strong>. A camada das “Luzes”, na configuração<br />

atual do dispositivo tecnocientífico, possui uma potência notável, tanto para a rejeição do<br />

“A ciência não tem pátria,<br />

porque o conhecimento pertence<br />

à humanidade e é a tocha que<br />

ilumina o mundo”.<br />

Louis Pasteur<br />

discurso “obscurantista” e “irracional”, quanto para<br />

contagiar com sua aura o discurso do capital e da técnica.<br />

Com as Luzes surge, de fato, a idéia de divulgação<br />

universal do saber. Por um lado, no século XVIII, os<br />

aristocratas adoram ter um savant em suas festas. Querem um microscópio e um telescópio.<br />

Querem que seus preceptores ensinem, junto com o grego e a filosofia, as novas maravilhas da<br />

ótica. François Rouelle (1703-1770), químico que formulou<br />

uma das primeiras definições do que é um sal, é celebrado por<br />

suas “demonstrações de química” nos Jardins du Roi,<br />

freqüentadas por Diderot, Rousseau, Condorcet. Nos mesmos<br />

anos, Jacques de Vaucanson (1709-1782), um dos maiores<br />

construtores de autômatos de todos os tempos, percorre a<br />

Europa exibindo inquietantes criaturas, tais como um flautista<br />

(que toca seu instrumento) e um pato de cobre capaz de<br />

nadar, comer grãos, digerir (por meio de substâncias químicas<br />

contidas em seu tubo digestivo) e, por fim, defecar. Diz-se que, no final da exibição, para<br />

mostrar que não havia magia nem truques, Vauncanson abria sua criatura e exibia as<br />

engrenagens internas, mas que as damas, por pudor, viravam o rosto àquelas entranhas<br />

mecânicas.<br />

Por trás do espetáculo, o leitmotiv discursivo é interessante: a natureza é um sofisticado<br />

relógio, os organismos são máquinas e enquanto tais explicáveis, desmontáveis, sujeitos a leis<br />

deterministas e passíveis de reconstrução e reinvenção pelo homem. Além disso, todos (e<br />

todas) podem acessar tal saber, enxergar no interior do relógio: a compreensão do mundo está<br />

ao alcance de todos.<br />

197<br />

Figura 26. Reconstrução do<br />

lendário pato de Vaucanson

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