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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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objetivo gerir grandes massas de indivíduos e fazer deles corpos dóceis 114 .<br />

<strong>As</strong> táticas de governo ligadas à razão de Estado se baseiam ainda nos clássicos<br />

mecanismos da soberania, de castigo e suplício, mas passam também a incorporar aquelas<br />

técnicas disciplinares que Foucault examinou em profundidade na escola, nas oficinas, nos<br />

exércitos, nas prisões.<br />

Sociedades de disciplina<br />

Uma vez que a riqueza não se dá apenas pela propriedade de latifúndios e pela segregação de<br />

grandes quantidades de ouro e prata, mas se produz por meio da exploração da força de<br />

trabalho, se tornam urgentes técnicas mais sofisticadas para educar, vigiar, disciplinar tal força<br />

de trabalho. Surgem assim – a partir da reconfiguração e recombinação de algumas técnicas<br />

medievais (por exemplo, ligadas à regulação da vida religiosa e monástica) – aquelas que<br />

Foucault denomina de disciplinas: “métodos que permitem o controle minucioso das<br />

operações do corpo, que realizam a sujeição constante de suas forças e lhes impõem uma<br />

relação de docilidade-utilidade” (Foucault, 1975, VP: p. 118). Essa “nova mecânica de poder”<br />

permite extrair dos corpos tempo e trabalho. É um tipo de poder que se exerce continuamente<br />

por vigilância, por prescrições.<br />

A função das técnicas disciplinares e de seus dispositivos (prisões, hospitais, quartéis,<br />

fábricas) é, em suma, de controlar o comportamento e o tempo dos indivíduos direcionando-os<br />

para uma norma ótima, que permita o crescimento do Estado até a potência máxima possível.<br />

No entanto, comenta Foucault, ao longo do século XVIII, um outro movimento se<br />

insere e contribui para a reconfiguração da razão de estado. O próprio surgimento da<br />

população como tema e objeto central do governo, junto com o constituir-se da economia<br />

política como ciência, fazem com que as disciplinas e a polícia não sejam suficientes como<br />

fundamentos do governar. A ratio governamental torna-se mais complexa.<br />

114 O governo da disciplina, diz Foucault, surge no contexto de “três corpos concretos”: o mercantilismo, baseado na<br />

concorrência permanente com as potências estrangeiras e no enriquecimento do Estado por meio da acumulação<br />

monetária; o “Estado de polícia”, no sentido antigo do termo (polizei não significa simplesmente polícia, mas em geral<br />

regulamentação e gestão da saúde pública, da economia, da limpeza etc., com o objetivo da eficiência e do esplendor<br />

das cidades); e o “equilíbrio europeu”, fundando na criação de um exército e de uma diplomacia permanentes.<br />

(Foucault, NB: p. 6-10).<br />

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