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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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Porque comunicar a ciência para o público? Elementos e<br />

argumentações<br />

“Este é um mundo em que é cada vez mais importante, para os cientistas,<br />

demonstrar o valor de seu trabalho e demonstrar que são profissionais que<br />

merecem respeito e confiança [...] Estamos tentando criar cientistas<br />

excelentes, comprometidos com os valores da ciência, e que sejam ao mesmo<br />

tempo empreendedores, comunicativos e socialmente conscientes, e que<br />

busquem dar contribuições na vida inteira para seu país [...] Quando os<br />

cientistas são vistos como interessados num mundo fora da ciência, têm<br />

mais chance que o público confie neles. É um pensamento que faz refletir,<br />

mas talvez os cientistas façam mais para cultivar o respeito quando são<br />

humanos e falíveis do que sendo inteligentes e perspicazes...”<br />

P. Callaghan, “Why communicate science? – a Kiwi view”. Australian R&D<br />

Review, Setembro de 2007. Disponível em:<br />

http://www.sciencealert.com.au/opinions/20070609-16305.html. Acesso em<br />

abril de 2008, trad. e grifos meus.<br />

4.10 A função estratégica do dispositivo<br />

291<br />

SELLING SCIENCE.<br />

ACCOUNTABILITY. TRUST.<br />

CIÊNCIA EMPREENDEDORA:<br />

O cientista deve ser proativo,<br />

empreendedor, comunicativo,<br />

responsável, ter uma boa<br />

imagem pública, e querer ser<br />

excelente e comprometido<br />

com “seu país” (Supremacia<br />

nacional).<br />

Naturalmente, os estratos da <strong>tecnociência</strong> cuja gênese está ligada à atualidade, à<br />

governamentalidade e ao controle não revogam, não substituem nem invalidam as camadas de<br />

disciplina (o Iluminismo e o positivismo, o mecanicismo etc.), nem os elementos mais antigos<br />

sobre o conhecimento em geral. A tectônica e a estratigrafia da <strong>tecnociência</strong> são interessantes<br />

justamente porque a atualidade funciona como recombinação, recodificada, ressignificada,<br />

de todos os elementos, mesmo tendo uma nota tônica e uma “cor” dominante específica.<br />

A <strong>tecnociência</strong> parece um dispositivo não somente de inexorabilidade, mas, sobretudo,<br />

de captura e multiplicidade: ela é cibernética, portanto flexível, interativa, polifônica, reticular.<br />

Precisa de facetas ativas diversas, que funcionem como dispositivos disciplinares, biopolíticos<br />

e de controle. A <strong>tecnociência</strong> possui muitas vozes. Em seu funcionamento de inexorabilidade e<br />

despolitização, ela é piramidal e hierárquica, pouco acessível e pouco alcançável. Em sua<br />

recombinação dialógica, de participação e co-construção, ela é reticular e rizomática. Mas tudo<br />

isso, longe de ser uma conclusão para nossa análise, abre uma série de problemas:<br />

- Para que servem essas duas faces da <strong>tecnociência</strong>? Se de fato as decisões relevantes não são<br />

tomadas por meio de processos democráticos, mas “a portas fechadas” (pela negociação de<br />

grandes lobbies, ou por meio de processos tecnocráticos semi-automáticos ou, ainda, com base<br />

na racionalidade neoliberal e nas necessidades do capitalismo global), qual a função desta

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