10.06.2013 Views

As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

normas, técnicas de si e de dominação em que as camadas da <strong>tecnociência</strong> que aqui analisei<br />

nos capítulos anteriores têm um papel importante. Mas qual é, então, a urgência específica à<br />

qual a <strong>tecnociência</strong>, como meta-dispositivo, responde?<br />

Mobilização [Primeira suspeita]<br />

De certo, a <strong>tecnociência</strong> não responde às mesmas urgências que os dispositivos de disciplina.<br />

Embora a função disciplinar esteja ativa em seu corpo, na <strong>tecnociência</strong> não se trata de criar<br />

corpos dóceis e produtivos, prisioneiros de almas pecadoras prontas para o arrependimento.<br />

Tampouco o efeito da <strong>tecnociência</strong> é exclusivamente biopolítico. Regular, suscitar, incitar a<br />

população, seus fluxos, suas práticas não é o objeto específico da <strong>tecnociência</strong>, embora a<br />

biopolítica seja assunto eminentemente tecnocientífico.<br />

Inicialmente, me pareceu evidente que o meta-dispositivo tecnocientífico funcionava<br />

apresentando-se como sinônimo do Progresso e, então, como desejável, automático,<br />

inevitável. Se a <strong>tecnociência</strong> como um todo é signo do Progresso; se seu discurso é fundado na<br />

pureza, na universalidade, na luz; se suas práticas são associadas à imanência, ao império do<br />

homem sobre a natureza, ao controle e à previsão dos fenômenos, então cada esfera, aspecto e<br />

nível da <strong>tecnociência</strong> pode gozar de efeitos metonímicos (da parte para o todo): o<br />

<strong>neoliberalismo</strong>, quando questionado –Será justo o desmanche do welfare state? Faz sentido<br />

privatizar as grandes empresas e os serviços públicos de base? – pode tomar emprestados os<br />

leitmotifs da ciência. Para que o país progrida, temos que calcular com base no mini-max, na<br />

eficiência, no máximo crescimento com o mínimo custo; as políticas públicas devem basear-se<br />

em fatos, dados, números que as orientem para gerar sempre novos impulsos e acelerações do<br />

mercado. O resto, não é fato; as objeções são crenças ou ideologias.<br />

Com base na fábula de que a cada aceleração e pulo à frente do capitalismo<br />

corresponde a geração de maior bem estar social (o “bem estar” consistindo em emprego,<br />

renda, possibilidade vantajosas de investir capital humano ou financeiro) e com base na crença<br />

de que progresso social e progresso técnico são condição um do outro, o topos da objetividade<br />

da ciência se mistura com o da neutralidade da técnica e os dois com as narrativas capitalistas<br />

sobre liberdade individual, positividade do empreendedorismo e da concorrência, aceleração<br />

da economia como valor. Recombinando dinamicamente fragmentos dessas histórias se<br />

consegue neutralizar, invisibilizar ou até mesmo incorporar grande parte dos enunciados<br />

301

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!