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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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Minutos”.<br />

Alguns cientistas, em suma, parecem servir-se com notável cinismo do<br />

sensacionalismo e da banalização midiática, que tanto detestam.<br />

No entanto, a situação é mais complexa. A mídia não é (só) o lugar onde os expertos<br />

conseguem aproveitar-se da ingenuidade de públicos “leigos” e do sensacionalismo dos<br />

jornalistas. A importância da comunicação pública da ciência vai muito além de processo<br />

banais de propaganda. E o público da comunicação nunca é apenas leigo. Os políticos e os<br />

tecnocientistas assistem a TV e lêem os jornais: também são um público importante. Mesmo<br />

que não costumem reparar nisso, os pesquisadores utilizam a informação midiática como<br />

um dos elementos para direcionar suas pesquisas, formular seus modelos, buscar recursos,<br />

recrutar alunos. Em área médica, por exemplo, foi mostrado que os trabalhos divulgados pelo<br />

New York Times acabam sendo os que recebem mais citações entre os especialistas (Phillips,<br />

1991) 267 . Os cientistas que lêem a divulgação de um trabalho na mídia acabam se interessando<br />

por este, considerando-o relevante: o que sai na mídia inspira citações, pesquisas, produção de<br />

projetos, teses etc. Numa sociedade de controle, a divulgação (que nunca foi apenas di-<br />

vulgação) não serve apenas para difundir conhecimento e não se direciona apenas para um<br />

público leigo. Os pesquisadores, suas instituições, as organizações públicas e privadas que<br />

financiam a pesquisa, todos são potenciais públicos para a comunicação da ciência e todos têm<br />

interesses em jogo na difusão – ou na apropriação –do conhecimento produzido.<br />

Diferentes esferas e diversos grupos sociais passam a fazer parte da <strong>tecnociência</strong>. O<br />

que costumava ser chamado de público tornou-se plural, proteiforme, múltiplo. E os públicos<br />

já não são apenas grupos passivos que devem receber informação e propaganda. Tornam-se<br />

fatores concretos nas decisões sobre <strong>tecnociência</strong> e na produção de conhecimento.<br />

267 O impacto maior das pesquisas divulgadas pelo New York Times não pode ser imputado apenas ao fato de que os<br />

jornalistas são bons em farejar os papers posteriormente reconhecidos como melhores pelos cientistas. O nível médio<br />

de citação de papers da área biomédica caiu durante a greve dos jornalistas científicos do New York Times. Isto é, se o<br />

jornal pára de divulgar a ciência, a ciência daquele período tem menor impacto acadêmico. E tem menor “qualidade”, já<br />

que a qualidade hoje se mede pelas citações. É mais um exemplo de como a cultura e a sociedade retro-agem sobre o<br />

funcionamento da pesquisa científica.<br />

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