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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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(visto como uma espécie de empresa), a sociedade civil e o indivíduo que passa a ser visto<br />

como um “empresário de si mesmo”, uma micro-empresa cujo capital inicial é um “capital<br />

humano”. (Foucault, NB: p. 110 segs.; Lemke, 2001).<br />

Segundo Foucault, o elemento radical que distingue o pensamento neoliberal do<br />

liberalismo é a natureza do mercado. Para o liberalismo, o mercado tem sua naturalidade, leis<br />

específicas, intrínsecas, e o governo deve autolimitar-se em função destas. Para os Ordo-<br />

liberais alemães, ao contrário, nem o mercado e tampouco a concorrência são entidades<br />

naturais. São realidades construídas pela prática governamental. A concorrência não é um fato<br />

natural e não obedece a “leis” de natureza. A forma, a dinâmica e as conseqüências sociais e<br />

econômicas da competição de mercado dependem da intervenção política. O mercado existe e<br />

funciona bem não em virtude da mão invisível, mas somente se é sustentado e produzido pela<br />

prática de governo. Estado e mercado, para os Ordo-liberais, se constituem mutuamente. A<br />

competição “pura”, o mercado “livre” para eles não existem: são objetivos a perseguir.<br />

Na leitura que Foucault faz dos teóricos Ordo-liberais, tal concepção antinaturalística e<br />

institucionalista do mercado leva a três afirmações centrais:<br />

- Não existe uma separação nítida, essencial, entre economia e política, entre mercado<br />

e estado. O mercado pertence à dimensão das práticas socialmente reguladas.<br />

- <strong>As</strong> mudanças sócio-políticas não são causadas por mudanças nos processos<br />

econômicos: há uma reciprocidade entre as duas.<br />

- Não existe uma “lógica do capital”, mas diversos “capitalismos” possíveis, em<br />

função de que tipo de invenção política do mercado se faz: a ordem econômica é fruto<br />

e objeto da regulação política (Foucault, NB: p. 165 seg.; Lemke, 2001) 124 .<br />

A lei passa, então, a ter um papel diferente. É um instrumento essencial para criar as formas<br />

empreendedoras na sociedade: passa a ser parte integrante da economia.<br />

O conceito Ordo-liberal de uma “economia social de mercado” implica a visão do<br />

124 Segundo Foucault, os neoliberais alemães discordam, em suma, tanto de Schumpeter, quanto de Sombart. Para eles,<br />

o monopólio não é uma tendência inevitável na dinâmica do capitalismo, mas, como todo fenômeno econômico (isto é,<br />

social), fruto de determinadas políticas e regras de construção do mercado. Se para Sombart o capitalismo levava<br />

inevitavelmente a uma sociedade de massa e ao empobrecimento das relações humanas, para os Ordo-liberais, muito<br />

pelo contrário, tal uniformização e empobrecimento são frutos de políticas antiliberais, de intervenções de aparatos<br />

burocráticos inimigos do livre mercado que, por sua vez, impulsionaria para a originalidade e contra a homogeneidade.<br />

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