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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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permite restituir-lhe a dimensão política.<br />

Tratar a <strong>tecnociência</strong> como acontecimento, isto é, como específico, atual<br />

agenciamento, permite levar em conta um conjunto de condições de possibilidades históricas.<br />

A cientifização da tecnologia; a necessidade de recursos ingentes para a pesquisa de ponta; a<br />

centralidade do avanço técnico para a concorrência capitalista e para a supremacia militar; as<br />

decisões políticas que levaram a novos mecanismos de apropriação do conhecimento; a<br />

representação e constituição da subjetividade como baseada numa racionalidade de tipo<br />

econômico; as novas técnicas e táticas de poder; a abertura, enfim, de novos horizontes –<br />

cognitivos, físicos, psíquicos etc – pelas ciências (a biologia molecular abrindo a possibilidade<br />

de uma nova genética e de um novo darwinismo, a teoria quântica abrindo a possibilidade da<br />

microeletrônica, a física contribuindo para a reconfiguração das estratégias geopolíticas etc) e<br />

assim por diante: muitos acontecimentos, diversas forças, multíplices práticas contribuíram<br />

para o acontecer da <strong>tecnociência</strong> atual. E muitas osmoses podem influir em seu caminho<br />

futuro.<br />

2.7 Saber, poder subjetivação: a <strong>tecnociência</strong> como dispositivo<br />

Na biopolítica e na sociedade de controle a <strong>tecnociência</strong> assume muitas características daquela<br />

formação híbrida que Michel Foucault denominou de dispositivo. Trata-se de um conceito<br />

complexo (“uma espécie de novelo ou meada, um conjunto multilinear”, diz Gilles Deleuze,<br />

1990), que Foucault elaborou aos poucos e reelaborou em diversos momentos de sua vida,<br />

fornecendo delimitações diagonais e perspectivas diferentes. Como conseqüência, o<br />

“dispositivo” foucaultiano abriu o caminho para interpretações diversas e variadas<br />

multiplicações de sentido. Já foram analisados como dispositivos a “maternidade”, a<br />

“televisão”, o “racismo”, a “exposição da intimidade”, e assim por diante. É preciso, então,<br />

situar aqui em que sentido pretendo delimitar o conceito, e por que considero heuristicamente<br />

útil aplicá-lo em parte de minha exploração da <strong>tecnociência</strong> contemporânea.<br />

“Dispositivo”, é óbvio, não é um objeto, um equipamento ou uma máquina em sentido<br />

estrito. É uma rede de relações e de regimes 133 . É o entrelaçamento, a constituição mútua<br />

entre saber, poder e subjetividade, que Foucault começa a tratar, sem fornecer uma<br />

133 Para Rabinow e Dreyfus (1995: p. 134), um termo alternativo para dispositivo poderia ser “rede de inteligibilidade”.<br />

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