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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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Ômega” de perfeição 18 , adaptação ou aptidão máxima. Quero, ao contrário, construir uma<br />

tectônica como ela é para os geólogos: o estudo das deformações visíveis da crosta terrestre a<br />

partir de forças internas, menos visíveis, que se exerceram sobre ela. Deformações não<br />

progressivas ou cíclicas, tampouco necessariamente finalizadas por rupturas “revolucionárias”.<br />

A superfície, a crosta aparentemente sólida, rígida, imutável da <strong>tecnociência</strong> – as “leis<br />

de natureza”, “o método” científico, o “progresso”, as “máquinas” – é na verdade afetada por<br />

deformações, fusões, moldagens e rupturas sociotécnicas. A filosofia natural do século XVII<br />

passa a ser, no século XIX, aquela rede social e profissional, completamente diferente, da<br />

“ciência acadêmica”, que por sua vez se fratura e reconfigura nas ciências industriais do<br />

começo do século XX e, logo depois, na Big Science, e assim por diante. Tudo isso acontece<br />

em paralelo ao desdobrar-se de acontecimentos (a mutação dos sistemas de proteção da<br />

propriedade intelectual, as reconfigurações do capitalismo, as transformações geopolíticas<br />

etc.) tão importantes quanto os próprios resultados e as aplicações da <strong>tecnociência</strong> (a<br />

telemática e a automação, os antibióticos e a biotecnologia, as armas de destruição de massa).<br />

Tectônica da <strong>tecnociência</strong> será então o estudo de como muda a superfície aparentemente sólida<br />

da <strong>tecnociência</strong> a partir da reconfiguração das forças que regulam, impulsionam, modulam as<br />

práticas e o entrelaçamento entre ciência, técnicas e mercado. E de como estas práticas<br />

funcionam por remontagens complicadas de peças, caracterizadas às vezes por rupturas com<br />

respeito a velhas configurações, mas também por recuperações, re-emergências, re-<br />

interpretações, modulações de velhos dispositivos: elementos que se deformam, se fundem ou<br />

afundam, se rompem ou pulverizam, mas que também podem sedimentar, re-soldar-se,<br />

emergir em novas formas, tal como as montanhas emergem de mares.<br />

No primeiro capítulo, então, analisa-se que forma assumem, a partir do final da<br />

Guerra Fria e da globalização econômica, a política e a economia da ciência e da tecnologia.<br />

Mostro como mudam a universidade e suas relações com o mercado, e que tipo de pressões<br />

sofrem, em algumas áreas, as normas internas à pesquisa científica e o ethos dos cientistas. É<br />

revisado criticamente o debate sobre a hipótese de que a ciência contemporânea seja algo<br />

diferente, do ponto de vista organizacional, epistemológico, social, da que existia nos tempos<br />

de Galileu, Newton, Darwin ou Einstein.<br />

18 Era nesses termos, cristãos, teleológicos e escatológicos, que o jesuíta Teilhard de Chardin interpretava a evolução<br />

darwiniana.<br />

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