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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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conhecimento. O “Modo 2”, fruto do “novo contrato social”, seria o da produção de um<br />

conhecimento de tipo transdisciplinar, orientado pelo “contexto da aplicação”, pelos<br />

problemas apresentados pela sociedade e pelo mercado. Mas este “novo contrato social”,<br />

dizem Gibbons et al. (1994), não significa uma substituição do Modo 1 pelo 2, anulando<br />

normas, ethos, metodologias, organização e institucionalização da ciência acadêmica<br />

tradicional. O que aconteceria é uma coexistência de dois mundos e duas culturas: “o novo<br />

modo está emergindo lado a lado com a estrutura disciplinar tradicional da ciência e da<br />

tecnologia. […] O Modo 2 não está suplantando, mas sim complementando o Modo 1”<br />

(Gibbons et al., 1994: p. 14; trad. minha).<br />

Mesmo assim, segundo seus proponentes, a ciência e a sociedade “de Modo 2” seriam<br />

radicalmente diferentes das do Modo 1. Seriam cinco as dimensões que diferenciam os dois<br />

regimes: contexto, base disciplinar, organização social, “accountability”, controle de<br />

qualidade.<br />

1. Contexto<br />

No “Modo 1”, o conhecimento é produzido num contexto “da descoberta” 87 , isto é, a pesquisa<br />

é impulsionada e guiada pelos interesses de comunidades acadêmicas específicas. Os<br />

problemas científicos são escolhidos, definidos e resolvidos no interior de cada comunidade<br />

disciplinar, não tendo necessariamente em vista um resultado instrumental, prático, específico.<br />

Ao contrário, no “Modo 2” a pesquisa é organizada num “contexto de aplicação”, direcionada<br />

ao redor de algum “princípio de utilidade” (militar, social, econômica). O conhecimento “do<br />

Modo 2” é produzido a partir de demandas e da negociação com diferentes stakeholders,<br />

refletindo não somente os interesses dos cientistas.<br />

2. Base disciplinar<br />

No Modo 1, a pesquisa pode ser multidisciplinar, mas raramente é interdisciplinar, porque o<br />

conhecimento é desenvolvido segundo normas, representações, interesses e sistemas de<br />

87 No empirismo lógico, particularmente no trabalho de Hans Reichenbach, na produção de conhecimento científico<br />

distingue-se o contexto “da justificação” e o “da descoberta”. O primeiro remete à reconstrução racional do<br />

conhecimento científico e ao modo como este é comunicado a outros cientistas. O segundo é ligado à maneira como,<br />

subjetivamente, é realizado o percurso cognitivo que leva a uma descoberta ou teorização. (Veja, por ex., Epstein,<br />

2002: p. 101-102 e Oldroyd, 1998). Gibbons et al. (1994) deslocam o sentido originário do conceito de “contexto da<br />

descoberta” para afirmar que a pesquisa do Modo 1 seria dirigida e impulsionada por dinâmicas substancialmente<br />

internas à própria ciência.<br />

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