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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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antagônicas – parece ser auxiliada pela capacidade que a <strong>tecnociência</strong> operatória possui de<br />

fazer corresponder a cada ajuste, a cada ruptura, a cada movimento no corpo social e na esfera<br />

cognitiva uma paralela possibilidade de manipulação, controle, esquadrinhamento, liberando<br />

forças para a apropriação e a exploração.<br />

Cada vez que a vida, a linguagem e o trabalho mostram uma abertura, um caminho<br />

possível rumo a um território ainda não visto ou impensado, a <strong>tecnociência</strong> pode traduzir tal<br />

território numa forma que seja passível de apropriação, de quantização e, por fim, de<br />

colonização. A colonização de uma nova fronteira, uma vez desencadeada, tipicamente se dará<br />

na forma de um impulso exponencialmente acelerado, efêmero, mas às vezes relativamente<br />

longo.<br />

Mas esta hipótese abre logo um corolário. Se a governamentalidade atual é dotada da<br />

capacidade (e da necessidade) de explorar cada ajuste, de incorporar cada input, de monitorar<br />

inúmeros movimentos e vozes, seria justamente esta a característica peculiar que permite<br />

esperar mutações, novos entrelaçamentos de saber-poder, uma nova forma-acontecimento<br />

diferente da <strong>tecnociência</strong> que conhecemos?<br />

Interstícios, insistência, desistência [Última suspeita]<br />

Em diversos momentos, mencionei que o entrelaçamento tecnocientífico atual mostra uma<br />

propriedade interessante: ciência, técnicas e capital tendem a apoiar-se, impulsionar-se e<br />

legitimar-se mutuamente, mas não sempre. Faíscas, nevralgias e curtos-circuitos são comuns<br />

e importantes.<br />

Ulrich Beck (1997: p. 29), por exemplo, enfatiza que “o aumento do bem-estar social e<br />

o aumento dos riscos condicionam mutuamente um ao outro. Na medida que isso se torna<br />

(publicamente) consciente, os defensores da segurança não estão mais no mesmo barco que os<br />

planejadores e produtores da riqueza econômica. A coalizão da tecnologia e da economia<br />

fica abalada, porque a tecnologia pode aumentar a produtividade mas ao mesmo tempo<br />

coloca em risco a legitimidade” (trad. e grifos meus) 314 . Robert Kurz mostra o curto-circuito<br />

entre capital e trabalho, já bem analisado por Marx, amplificado pela ciência e a tecnologia.<br />

314 É com base nessa argumentação, entre outras, que Beck chega à sua famosa conceituação da “sub-política”. Não<br />

chegamos ao “fim da política”, argumenta o alemão. É que “procuramos o político no lugar errado, nas tribunas erradas<br />

e nas páginas erradas dos jornais. Aquelas áreas de tomada de decisão que têm sido protegidas do político no<br />

311

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