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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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Quadro 7. Aceleração, impacto, maravilha, desafio, nova era: a <strong>tecnociência</strong> segundo Tony Blair (fragmento)<br />

“[...] No último século, e em particular nos últimos cinqüenta anos, o ritmo do avanço científico foi<br />

tamanho que até mesmo os melhores cientistas não podem conhecer as descobertas nas fronteiras de<br />

áreas que não são as suas. Está sendo feita mais ciência, ela é mais global e mais rápido é seu<br />

impacto em nossas vidas [...]. Mas ainda estamos no limiar de novos pulos e novas descobertas.<br />

[...] Sei que há cientistas aqui que sabem explicar muito melhor os desafios e as maravilhas que<br />

estão emergindo, mas [...] quero apontar o potencial desta nova era de descobertas. [...] Acredito<br />

que a descoberta científica seja um dos mais excitantes desenvolvimentos que acontecem no mundo<br />

hoje em dia [...]”.<br />

“Science Matters”: discurso proferido pelo Primeiro Ministro do Reino Unido, Tony Blair, em<br />

10/4/2002 (Trad. e grifos meus)<br />

3.4.1 Antigos contra Modernos<br />

No cerne da narrativa do novum e da aceleração está a questão da técnica. <strong>As</strong> novas filosofias,<br />

as novas observações do mundo natural e a exploração de novos mundos (na Terra, no céu ou<br />

numa gota d’água observada no microscópio) não são acontecimentos relevantes apenas num<br />

plano teorético. Funcionam, na reconfiguração moderna dos regimes de verdade,<br />

indissoluvelmente ligados à invenção de máquinas, instrumentos, artefatos que permitem –<br />

além de coletar, observar, explorar – também desmontar, manipular, moldar, recriar. Para os<br />

modernos, os fenômenos devem ser compreendidos e controlados: a imanência pode ser<br />

gerida, modulada.<br />

É por isso que plantas, animais e seres humanos não são descritos somente em sua<br />

aparência externa, mas por meio de tábuas anatômicas onde são visíveis detalhes de pétalas e<br />

estames, interior e exterior das partes e dos órgãos. O corpo humano é estudado e divulgado da<br />

mesma maneira, com dissecções e modelos. Já no século XVI, as ilustrações detalhadas de<br />

Vesalius, as vênus e os teatros anatômicos (Figura 22 e Figura 23) não têm apenas a função de<br />

exibir o espetáculo do novum e da renovada filosofia natural, mas, sobretudo, de mobilizar a<br />

observação empírica, a desmontagem, epistêmica e instrumental, da realidade. “Acelerados”<br />

(“[...] mais história em cem anos [...]”), os anões sobre os ombros de gigantes se sentem cada<br />

vez mais em condição de competir com os Antigos.<br />

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