10.06.2013 Views

As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

os outros mas, em certo sentido, a própria essência e definição de cada espaço não podem se<br />

dar senão recorrendo aos outros. A ciência existe, sim, como algo específico, porque, mesmo<br />

Figura 3. Molécula de colágeno:<br />

forma de tripla hélice<br />

na <strong>tecnociência</strong>, ciência não é sinônimo de tecnologia. Porém, a ciência se<br />

define a partir de alguns elementos oriundos da esfera das técnicas ou da<br />

dinâmica do capital. Analogamente, o mercado é constituído, habitado,<br />

reconfigurado a partir da ciência e das tecnologias; e as tecnologias modernas<br />

pegam forma (e conteúdo) a partir do entrelaçamento com as ciências e o<br />

mercado.<br />

Esse entrelaçamento não tem a ver apenas com a ideologia da ciência e do<br />

progresso. A ciência “fala” de tecnologia e de mercado, e o mercado “fala” de<br />

ciência e tecnologia, não apenas como mascaramento da realidade subjacente<br />

da exploração capitalista.<br />

O entrelaçamento tecnocientífico é tanto discursivo quanto anatômico<br />

e fisiológico. É caracterizado por um alternar de cristalizações e dissoluções,<br />

precipitações e sublimações, axiomatizações e desterritorializações, em que<br />

os elementos que foram preeminentes numa época continuam ativos hoje,<br />

mas re-moldados, funcionando dentro de uma fisiologia nova e com<br />

significados diferentes.<br />

Cada parte, neste triplo parafuso, tende a sustentar, fundamentar e<br />

impulsionar o discurso e o funcionamento das outras duas, embora (tendo<br />

especificidades, normas e objetivos próprios) possa entrar em atrito com<br />

estas. O discurso e as práticas da ciência tendem a ser funcionais ao discurso<br />

e às práticas da tecnologia e do mercado. E assim por diante: o<br />

mercado tende a fornecer suporte, legitimidade e impulso para os<br />

avanços técnico-científicos, a tecnologia confirma a “verdade” do funcionamento do mercado.<br />

O dispositivo possui uma dinâmica e um discurso que, como veremos, tendem a afirmar uma<br />

coisa: a <strong>tecnociência</strong> é inevitável. Ela é uma máquina, uma locomotiva em marcha, e sua<br />

marcha é neutral e imanente: não pode e não deve ser interrompida. Não pode e não deve ser<br />

obstaculizada, dirigida, politizada 7 . Mas esta inexorabilidade não é apenas efeito de um<br />

7 Comenta, por exemplo, Santos (2008: p. 24): “Toda opção tecnológica parece ser também política, mas na maioria<br />

das vezes o político permanece impensado. <strong>As</strong>sim, as implicações políticas das opções tecnológicas são, com<br />

freqüência, obscurecidas por discursos, práticas e decisões que se apresentam fundadas em razões ‘estritamente<br />

10

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!