10.06.2013 Views

As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

(Agamben, 2006; trad. minha) 137 .<br />

Achei fecundo fundamentar uma parte de minha análise iluminando a <strong>tecnociência</strong> como um<br />

dispositivo ou, melhor, como um conjunto de dispositivos modulando e pautando a produção<br />

de saberes, as técnicas de si e as táticas do governo, as técnicas simbólicas e de produção.<br />

Algumas das características (tectônicas, arquitetônicas, fisiológicas, discursivas) da<br />

<strong>tecnociência</strong> podem ser vistas como constituindo uma rede de saberes, instituições, técnicas de<br />

poder, normas, discursos entrelaçados funcionando no interior de uma racionalidade de<br />

governo específica e respondendo a urgências estratégicas sobre as quais voltarei na parte<br />

conclusiva deste trabalho.<br />

Mais ainda, a <strong>tecnociência</strong> é um meta-dispositivo. Se os dispositivos são máquinas de<br />

governo, a <strong>tecnociência</strong> é dispositivo num meta-nível, pois conduz, suscita, impulsiona,<br />

modula, permite o funcionamento de outros dispositivos. Ciências, técnicas e mercado estão<br />

agenciados de uma forma em que um elemento conta a história do outro (por exemplo, a<br />

racionalidade econômica e a ciência, reciprocamente). Um campo pauta outro campo (por<br />

exemplo, a técnica e o mercado pautando mutuamente sua aceleração). Um faz o jogo do<br />

outro, como também o “jogo de linguagem” do outro. <strong>As</strong> verdades da ciência fornecem, como<br />

pretendo mostrar na Parte II, efeitos de verdade para o funcionamento ou para a despolitização<br />

das técnicas e do mercado, e assim por diante, num entanglement que é ao mesmo tempo<br />

discursivo (as enunciações de um espaço que acabam constituindo suporte, fronteiras,<br />

condições de possibilidades para as enunciações de outras esferas, e também “não discursivo”<br />

(as instituições e suas normas, os acordos internacionais sobre patentes etc.). Além disso,<br />

saber e poder fundem-se na <strong>tecnociência</strong> com processos de subjetivação que contribuem para<br />

modular as escolhas, os desejos, os investimentos do homo oeconomicus contemporâneo.<br />

137 Giorgio Agamben também redefine o dispositivo como “qualquer coisa que tenha de alguma maneira a capacidade<br />

de capturar, orientar, determinar, interceptar, modelar, controlar e assegurar os gestos, as condutas, as opiniões e os<br />

discursos dos seres vivos. Não somente, portanto, as prisões, os manicômios, o panóptico, as escolas, a confissão, as<br />

fábricas, as disciplinas, as medidas jurídicas etc. – cuja conexão com o poder é em certo sentido evidente – mas<br />

também o lápis, a escritura, a literatura, a filosofia, a agricultura, o cigarro, a navegação, os computadores, os celulares<br />

e, porque não, a própria linguagem, que é talvez o mais antigo dos dispositivos”. E continua: “não seria provavelmente<br />

errado definir a fase extrema do desenvolvimento capitalista que estamos vivendo como uma gigantesca acumulação e<br />

proliferação de dispositivos”. (Agamben, 2006; trad. minha).<br />

134

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!