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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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enfrentando determinadas perdas. Não existe, do ponto de vista da racionalidade neoliberal,<br />

uma diferença de caráter essencial entre o criminoso e outros atores econômicos. A tarefa do<br />

sistema penal é a de construir uma tabela adequada de castigos e desvantagens para os<br />

diferentes tipos de crime, de forma a modular as externalidades negativas de diversos tipos de<br />

conduta ilegal, que vão do excesso de velocidade ao homicídio.<br />

Foucault estabelece, então, duas diferenças de fundo entre o liberalismo e o<br />

<strong>neoliberalismo</strong>:<br />

1. A redefinição da relação entre estado e economia. O estado não é tanto a instância que<br />

deve garantir a liberdade do mercado e construir as regras adequadas, quanto, de certa<br />

forma, o contrário: o estado passa a funcionar, e calcular, como uma empresa.<br />

2. A nova visão do domínio social como um dos aspectos do domínio econômico: os<br />

cálculos de mini-max, de custos e benefícios, de produtividade, eficiência e assim por<br />

diante passam a ser aplicados em processos decisórios da vida profissional, familiar,<br />

até afetiva. <strong>As</strong> técnicas de si, junto com as de dominação, se intersectam numa<br />

governamentalidade em que cada um é tratado (pelo governo) e se vê como empresário<br />

de si mesmo.<br />

O homo oeconomicus pensado pelos economistas do século XVIII é profundamente diferente<br />

daquele configurado nos Estados Unidos no século XX. No liberalismo, a liberdade individual<br />

é precondição para que o governo seja bom. No <strong>neoliberalismo</strong> americano, a ação do governo<br />

depende da ação racional dos indivíduos, e as duas ligam-se não a uma suposta natureza<br />

humana ou social (o espírito de competição, o direito natural, a mão invisível), mas a uma<br />

artificialidade que constrói o palco e as regras do jogo econômico.<br />

2.5 A sociedade de controle<br />

Um pequeno texto, iluminador, que Gilles Deleuze escreve em 1992, é contraponto e<br />

complemento da análise foucaultiana sobre o capitalismo contemporâneo. A meu ver, Post-<br />

Scriptum sobre as Sociedades de Controle (Deleuze, 1992) não contradiz, mas integra,<br />

aprofunda e amplia as colocações de Foucault a propósito da reconfiguração da biopolítica e<br />

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