10.06.2013 Views

As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

do todo. Em grego, o timoneiro de uma embarcação, bem como aquele que governava um<br />

determinado sistema, se chamava kybernétes 296 . Norbert Wiener pegou emprestado o termo<br />

quando decidiu chamar de cibernética sua disciplina da informação e controle. Fez isso<br />

pensando no tipo de ação que o timoneiro efetua ao dirigir seu navio: não aponta para uma<br />

rota prefixada, mas governa mudando de direção e de impulso a cada instante, em função das<br />

ondas e dos ventos que afetam o barco.<br />

2. Há um estrato, recente, da narrativa “empreendedora”: os sujeitos devem pensar-se como<br />

empresários, cada um investindo seu capital humano. O próprio Estado deve funcionar como<br />

empresa, bem como suas instituições (escolas, hospitais, transporte, prisões etc.). A ciência<br />

deveria ser produzida, avaliada, gerida dentro da lógica e do cálculo econômico e por meio de<br />

“espírito empreendedor”. Ofertas e demandas, custos e benefícios, produtividade e eficiência<br />

devem ser usados para modular a produção de conhecimento, a inovação tecnológica, a<br />

educação e a formação permanente. De acordo com a racionalidade governamental, a<br />

prosperidade máxima se atinge não somente por meio de soberania e disciplina, mas<br />

fomentando vida, população e trabalho (biopolítica) de sujeitos tornados não apenas dóceis,<br />

mas “competentes” (cientificamente alfabetizados) para a modulação neoliberal. A<br />

comunicação pública da ciência é vista como instrumento para que os gestores, os executivos<br />

e a população funcionem melhor e saibam adaptar-se à mudança (é a moldagem do controle:<br />

veja cap. 2).<br />

3. Enfim, crucial para o funcionamento dos outros dois estratos, há uma camada discursiva<br />

(que, talvez, a partir do século XX entrou a fazer parte do “a priori histórico”, das condições<br />

de possibilidade do conhecimento contemporâneo) que é animada pela reticularidade, a<br />

relatividade, a multiplicidade. Objetos existem em relação. Percepções e conhecimento<br />

existem a partir de perspectivas, sistemas de referências, pontos de vista. Estruturas físicas,<br />

organismos vivos, sistemas sociais funcionam dentro de redes e retículos (de forças, de<br />

relações, de campos e trocas de matéria-energia etc.). A ciência moderna buscava identificar<br />

uma causa para um fenômeno, um agente soberano para o governo, uma história para os povos<br />

e as nações (e o pensamento). A <strong>tecnociência</strong> da atualidade privilegia pontos de vista em que a<br />

polifonia é liberada, em que as histórias são multíplices como os olhares, os objetos são<br />

híbridos, as estruturas são redes.<br />

296 Κυβερνήτης.<br />

277

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!