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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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Forças econômicas e processos sociais, em suma, modulam a invenção técnica e o<br />

avanço científico, mas processos internos e contingências têm um papel relevante e, além<br />

disso, uma rede sociotécnica, uma vez firmada, acarreta reorganizações em vários níveis da<br />

vida social e individual. Por outro lado, o uso social das tecnologias possui sua própria carga<br />

de invenção, sua força de ressignificação e reconstrução, seus desvios de função. O inesperado<br />

pode acontecer. Os criadores dos primeiros computadores eletromecânicos e eletrônicos<br />

imaginaram que tais máquinas fossem substancialmente instrumentos para o cálculo e a<br />

pesquisa e não, como de fato se tornaram, meios de comunicação e instrumentos para o<br />

trabalho em geral. Ninguém pensou que a rede de computadores idealizada pelos militares<br />

americanos como meio de defesa contra um bombardeio nuclear fosse adotada pelos físicos do<br />

mundo inteiro e transformada num instrumento para a comunicação científica. Ninguém<br />

imaginava, nem estava escrito na “lógica do capital”, que, por sua vez, o protocolo world wide<br />

web, desenvolvido por esses físicos, transformaria a Internet num poderoso meio de<br />

comunicação de massa.<br />

Ciências e técnicas podem funcionar em conflito ou em simbiose, em ressonância ou<br />

dissonância com os mecanismos, as regras e a racionalidade do capitalismo atual. No<br />

agenciamento entre produção de conhecimento científico, técnicas e mercado há pontos de co-<br />

constituição, pontos de aceleração recíproca, mas também faíscas, nevralgias, curtos-circuitos.<br />

Os híbridos, diria Bruno Latour (2005), são frutos inesperados e inevitáveis das<br />

necessidades de “purificação” intrínsecas à modernidade (a separação entre natureza e cultura,<br />

as dicotomias artificial/natural, imanente/transcendente, objeto/sujeito etc). O cyborgue, diz<br />

Haraway (1999: p. 42 segs.) é filho ilegítimo, impuro e eventualmente rebelde do capitalismo<br />

e da modernidade: as surpresas são possíveis.<br />

No capítulo precedente, enfoquei algumas características da ciência contemporânea,<br />

tais como: uma orientação das políticas de C&T para que a ciência auxilie o crescimento<br />

econômico ou a resolução de problemas socio-ambientais; um peso relevante da iniciativa<br />

privada nas atividades de pesquisa científica e tecnológica; o enraizamento de sistemas para a<br />

privatização do conhecimento; um número considerável de pessoas ligadas a Pesquisa e<br />

desenvolvimento (alguns milhões no mundo); uma elevada produção de informação<br />

tecnocientífica; atividades de P&D caracterizadas pela necessidade de recursos elevados e<br />

network de pesquisa; uma “reflexividade” crescente do sistema de produção de conhecimento<br />

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