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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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tempo, segundo um esquema de lassez faire 70 , de substancial autogestão por parte das<br />

comunidades científicas.<br />

Nos EUA, o lançamento do Sputnik soviético, em 1957, causara choque na sociedade e<br />

um terremoto na política. Entre outras conseqüências, contribuíra para o lançamento de<br />

programas governamentais em prol da “alfabetização científica”: a sensação era da urgência<br />

de incentivar a pesquisa para a defesa da nação. Entre 1953 e 1980, os investimentos em P&D<br />

cresceram, descontando a inflação, de 6,7%. No entanto, nem todas as partes do sistema<br />

científico-tecnológico cresceram da mesma forma. O número de doutores formados em<br />

disciplinas técnicas ou científicas, por exemplo, cresceu mais rapidamente que os<br />

financiamentos (Kellogg, 2006). <strong>As</strong> taxas de crescimento diferentes para diversas partes do<br />

sistema <strong>tecnociência</strong> estão entre os muitos fatores que contribuíram para a crescente<br />

necessidade, por parte de cientistas, engenheiros, técnicos, de “vender seu peixe”. Na época da<br />

“satisfação total do cliente”, os tecnocientistas também começaram a precisar legitimar,<br />

justificar suas pesquisas frente a investidores privados, policy-makers, representantes de<br />

organizações da sociedade civil e, em alguns casos, o grande público:<br />

Um resultado destas taxas de crescimento diferenciadas é que os laboratórios se<br />

tornaram maiores [...] e mais dependentes de grants [...]. Em lugar de pagar um<br />

salário tradicional, algumas universidades dos EUA passaram a esperar que [...] as<br />

faculdades de pesquisa científica começassem a sustentar-se autonomamente por<br />

meio de grants. […] Escrever e revisar aplicações para grants se tornou uma parte<br />

central do trabalho intelectual do cientista. […] Os pesquisadores acadêmicos estão<br />

extremamente atentos à data em que seus fundos acabam, como também ao prazo<br />

do próximo edital (Kellogg, 2006; trad. minha).<br />

Naturalmente, limitação de recursos, prestação de conta e demanda social para uma mais<br />

ampla e profunda negociação social não estão ligadas meramente a efeitos colaterais do<br />

crescimento exponencial dos sistemas de ciência e tecnologia. Rupturas e acontecimentos<br />

ligados às políticas de C&T, a reconfigurações geopolíticas, a mudanças na economia mundial<br />

70 No Reino Unido havia também uma política explícita nesta direção. Muitos anos antes das propostas de V. Bush,<br />

Richard Haldane, político inglês, já havia desenvolvido um modelo de autonomia para a pesquisa universitária, baseado<br />

em “dar dinheiro aos cientistas e deixar eles brincarem”.<br />

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