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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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Muitos afirmam que a grande questão do risco tecnológico desencadeou uma<br />

necessidade de negociação e comunicação, bem como as enunciações da <strong>tecnociência</strong> como<br />

decidida “de baixo para cima”. Na “sociedade de risco” (Beck, 2001 [1986]), como na<br />

“modernização reflexiva” (Giddens, Beck e Lash, 1997) o tema das conseqüências sócio-<br />

ambientais da ciência e da tecnologia é central, atual, eminentemente político e eminentemente<br />

global. Também para Brian Wynne (2002), o “risco” é uma das formas importantes por meio<br />

da qual, no discurso, é dado “significado público à tecnologia e à inovação”.<br />

É verdade que, especialmente a partir do século XX, entre as maiores nevralgias e<br />

pontos de atritos tectônicos estão as questões da interação problemática entre <strong>tecnociência</strong> e<br />

meio ambiente (Quadro 15 e Sturloni, 2006), entre natureza humana e <strong>tecnociência</strong><br />

(Marchesini, 2002; Fukuyama, 2002), entre trabalho e <strong>tecnociência</strong> (Kurz, 2004). Mas a<br />

emergência do risco (transnacional, invisível, não determinável com a certeza da ciência<br />

“clássica”) e a narração das catástrofes ligadas à <strong>tecnociência</strong> (a “Primavera Silenciosa”,<br />

Bhopal, Chernobyl, a BSE, Séveso...) não foram os únicos fatores ligados à reconfiguração<br />

tectônica.<br />

De um lado, a crise de legitimação da <strong>tecnociência</strong> e a necessidade do diálogo surgiram<br />

também a partir da crescente visibilidade dos interesses – e dos conflitos de interesse – dos<br />

cientistas (os OGMs, a clonagem da Dolly, o projeto Genoma, as patentes), bem como da<br />

renovada notoriedade dos casos de má-conduta, fraudes e mentiras (os casos de Woo-Suk<br />

Hwang 214 , Jon Sudbø 215 , Jan Hendrik Schön 216 ) (Castelfranchi, 2006).<br />

214 O caso é célebre: o cientista sul-coreano Hwang Woo-suk se tornou herói nacional, mas forjou dados para afirmar<br />

ter produzido células-tronco humanas por meio de clonagem.<br />

215 No início de 2006, a revista Lancet (entre as mais importantes do mundo na área de medicina) teve que retirar o<br />

artigo de Jon Sudbø, dentista e oncologista do The Radium Hospital de Oslo. Fazendo testes clínicos em centenas de<br />

pacientes, o pesquisador havia descoberto que alguns remédios podiam diminuir o risco de câncer oral. Os pacientes,<br />

porém, nunca existiram.<br />

216 Em 2001, Jan Hendrik Schön, pesquisador dos Laboratórios Bell, era considerado um jovem gênio da física. Com 31<br />

anos de idade, havia recebido dois prêmios internacionais e publicado cerca de 70 artigos científicos. Havia chegado ao<br />

ritmo vertiginoso de uma publicação, em média, a cada oito dias. Um trem-bala direto para o prêmio Nobel. Num artigo<br />

sensacional, na revista Nature, o jovem anunciou poder construir um transistor do tamanho de uma molécula. No<br />

entanto, nos dados de Jan Hendrik Schön havia algo estranho. Os resultados pareciam demasiado perfeitos. Alguns<br />

físicos perceberam que os gráficos de três experimentos diferentes tinham uma parte idêntica. Schön declarou ter<br />

fornecido, por engano, a mesma figura. Logo em seguida, outras coincidências apareceram. Um inquérito foi aberto.<br />

Schön declarou não ter cadernos de laboratório nem anotações. Disse ter deletado os dados do seu computador. Um<br />

terremoto sacudiu a comunidade dos físicos: o “jovem deus” havia, simplesmente, mentido. A maioria dos dados tinha<br />

sido forjada. Ele foi demitido da Bell e, mais tarde, perdeu seu título de doutorado.<br />

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