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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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Davy se tornou uma “estrela pop” ante litteram. Na imprensa, foi zombado por ser um<br />

pobre com ar de aristocrata, e também pelo seu gosto pela moda e pelos perfumes. Mas sua<br />

influência foi profunda. Jane Marcet assistiu a suas aulas e as usou como inspiração para suas<br />

Conversations on Chemistry. Mary Shelley utilizou as metáforas do Davy para dar voz a seu<br />

Dr. Frankenstein e mencionou explicitamente, na introdução do romance, a afirmação dele de<br />

que a criação da vida em laboratório não seria situada “além dos confins do impossível”.<br />

Em 1826, Faraday substituiu Davy como professor de química e conferencista na<br />

Royal Institution. Dedicou-se às palestras e às demonstrações públicas a vida inteira. Inventou<br />

também um ciclo de conferências de Natal dedicadas às crianças e aos adolescentes, cuja<br />

tradição continua até hoje. Se Humphry Davy tinha ficado famoso por explicar a química a<br />

partir do pedaço de giz, Faraday falava de física e química com uma vela. Sua História<br />

química de uma vela é uma obra prima de divulgação vitoriana, e transformou o físico numa<br />

celebridade.<br />

O sucesso da obra dos cientistas-divulgadores é sintoma de duas importantes mudanças<br />

sócio-culturais das primeiras décadas do século XIX. Por um lado, a autoridade e o prestígio<br />

crescente da figura do cientista. Por outro, o desejo das classes altas e médias (e, poucos anos<br />

depois, também da classe trabalhadora) de aceder, ou pelo menos de assistir, aos fastos do<br />

conhecimento científico.<br />

Além disso, a obra divulgativa de Davy e Faraday (e, sucessivamente, de Tyndall,<br />

Huxley, William Thomson e, fora da Inglaterra, de Hermann von Helmholtz, Louis Agassiz,<br />

Camille Flammarion, Louis Pasteur) é significativa porque permite um ponto de observação<br />

sobre a retórica científica da época e sobre os objetivos, explícitos ou implícitos, que a<br />

comunicação pública da ciência teve.<br />

A divulgação científica foi recebida e utilizada instrumentalmente tanto pela<br />

aristocracia quanto pela burguesia, tanto pelos conservadores quanto pelos progressistas e os<br />

socialistas. No início da Revolução Industrial, as pessoas cultas freqüentavam as conferências<br />

científicas por deleite. A divulgação era uma forma elegante de diversão, um prazer puro para<br />

o intelecto. Os latifundiários e os donos de minas tinham também motivações mais prosaicas:<br />

intuíam que a pesquisa aplicada podia ser um instrumento determinante para competir no<br />

mercado capitalista.<br />

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