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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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o que a física dizia ser, o que achávamos que fosse ou devesse ser e o que de fato estávamos<br />

contribuindo a produzir, havia como uma distância e uma fricção. Na frente do computador ou<br />

no laboratório, perseguíamos a paixão pela busca de leis unificadoras, o sonho de abraçar e<br />

entender o cosmo como um todo, em seus mecanismos fundamentais e universais.<br />

Reconhecíamo-nos na imagem de Newton: crianças curiosas, olhando para as conchas bonitas<br />

à beira mar, na frente de um infinito, inexplorado Oceano. No entanto, o que saía como output<br />

da física parecia confluir em objetos e processos sociais que seguiam outra lógica e pareciam<br />

almejar outros objetivos. A sensação de constante atraso e de aceleração acelerada me faziam<br />

ver, ao entrar na sala dos pesquisadores ou em meu laboratório de computação astrofísica, a<br />

cena de tantos ratos brancos correndo numa roda: acreditando ter um porquê, convencidos de<br />

que houvesse um aonde, mas indo, de fato, para lugar nenhum, acelerando sem ultrapassar<br />

ninguém…<br />

A inércia da locomotiva<br />

“Todas essas coisas novas que a gente inventa… Reinventam<br />

a vida da gente.”<br />

Propaganda Ourocard<br />

Banco do Brasil, 2007<br />

“Você me criou… Mas eu te criei primeiro.”<br />

Al Pacino no filme “Simone”,<br />

conversando com Simulation One,<br />

a atriz virtual que ele inventou<br />

Dois grandes temas, ligados entre si, atravessam uma parte importante das reflexões sobre o<br />

funcionamento das sociedades. De um lado, a questão de como e por que algumas criações<br />

humanas (instituições, objetos técnicos etc.) em determinadas circunstâncias adquirem o poder<br />

de pautar ou determinar o comportamento dos homens. De outro lado, o tema das<br />

conseqüências imprevistas, indesejadas ou não intencionais da ação humana.<br />

A descrição da sociedade como um conjunto cujo funcionamento acaba transcendendo<br />

a vontade e as intenções dos indivíduos é um tema importante no pensamento moderno. A<br />

imagem da “mão invisível” proposta por Adam Smith é um exemplo célebre de modelo em<br />

que as ações individuais, conscientes e orientadas por determinados fins, acabam resultando,<br />

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