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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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Talvez, então, a <strong>tecnociência</strong> funcione como um dispositivo que lida com aquele que<br />

Paul Rabinow diz ser um problema proeminente da atualidade: como trazer da forma<br />

melhor o capital, a moralidade e o conhecimento numa relação produtiva e ética<br />

(Rabinow, 1999: p. 20). Esta relação produtiva (capaz de abrir novas possibilidades para o<br />

lucro) e “ética” (capaz de pautar comportamentos e pensamentos através das técnicas de si<br />

com as quais os sujeitos conduzem sua própria conduta) passa, no <strong>neoliberalismo</strong>, por uma<br />

capacidade de capturar energias potenciais individuais e dividuais para o fim da aceleração<br />

acelerada do capital e da técnica.<br />

Os dispositivos disciplinares correspondem à necessidade de constituir corpos dóceis e<br />

massas de trabalhadores aptos e treinados ao trabalho assalariado. Os dispositivos biopolíticos<br />

devem gerir uma população e manipular parâmetros conectados com sua reprodução. Na<br />

atualidade, vale a pena explorar a hipótese de que a <strong>tecnociência</strong>, como meta-dispositivo da<br />

governamentalidade, responde à necessidade de coordenar processos e movimentos em que<br />

não somente os indivíduos – e não somente seu agir coletivo como população – mas até<br />

mesmo suas características moleculares, anônimas e dividuais se movem num fluxo<br />

mobilizado, coordenado, em média, em prol da apropriação e da aceleração capitalista.<br />

Todo sistema, toda prática e todo processo, no interior dos indivíduos bem como nas<br />

instituições, nas empresas e no estado, são pressionados a funcionar com base no cálculo<br />

econômico, submetidos ao “tribunal econômico permanente”. Tudo deve ser gerido como um<br />

capital que pode ser investido, valorizado ou desperdiçado. A produtividade e o lucro devem<br />

fazer parte dos objetivos das ações individuais e da regulação dos fluxos dividuais.<br />

Na interseção entre técnicas de si e governo dos outros, no funcionamento conjunto de<br />

tecnologias simbólicas e materiais, cognitivas e afetivas, a <strong>tecnociência</strong> lida com (e contribui<br />

para constituir) sujeitos que se sentem empresários de si mesmos, que desejam investir suas<br />

energias, seus afetos, suas habilidades da forma melhor. Cada um em concorrência com os<br />

demais, cada um se pensando como acionista de um fragmentado, informatizado,<br />

molecularizado capital humano. A <strong>tecnociência</strong> mobiliza este fragmentos, bits, energias e<br />

desejos para a aceleração do capitalismo. Todos investimos na aceleração. Todos estamos<br />

sempre um passo atrasados. Por isso, a aceleração existe.<br />

O discurso da <strong>tecnociência</strong>, então, não serve apenas como propaganda ou para<br />

mascarar as relações sociais. Ele é parte do funcionamento concreto da atualidade. A<br />

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