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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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Quadro 1. “Modo 1” versus “Modo 2” de produção do conhecimento (elaborado a partir de Gibbons et al., 1994).<br />

Contexto (da prática<br />

científica)<br />

Estrutura<br />

disciplinar<br />

Responsabilidade<br />

(accountability)<br />

Organização social<br />

Controle de<br />

qualidade da ciência<br />

“Modo 1” “Modo 2”<br />

“Contexto da descoberta”: Problemas e<br />

metodologias de pesquisa definidos no<br />

interior e pelos interesses específicos de<br />

cada comunidade acadêmica.<br />

Forte distinção entre ciência teórica e<br />

experimental, e entre ciência de base e<br />

aplicada.<br />

O conhecimento é visto como neutral,<br />

não-político, “puro”. Sua aplicação<br />

posterior é julgada socialmente.<br />

Institucionalizada: base preferencial é a<br />

academia. Grupos e redes de pesquisa são<br />

usualmente de tipo disciplinar e de longo<br />

termo. <strong>As</strong> comunidades são hierárquicas<br />

e homogêneas<br />

Peer-review, comitês científicos.<br />

Contexto “da aplicação”: A pesquisa é<br />

impulsionada e em parte dirigida por<br />

atores heterogêneos, nem sempre<br />

pertencentes à comunidade acadêmica.<br />

Tipicamente transdisciplinar. Fluxo<br />

bidirecional entre o teórico e o aplicativo.<br />

Há social accountability já na fase inicial<br />

de pesquisa. A ciência e os pesquisadores<br />

passam a ser “reflexivos”.<br />

O conhecimento é produzido em<br />

diferentes instituições e variados<br />

contextos organizativos. Grupos e redes<br />

são interdisciplinares, temporários.<br />

Comunidades ampliadas, baseadas em<br />

critérios amplos, definem o que é “boa<br />

ciência”. Além de confiável, o<br />

conhecimento deve ser “socialmente<br />

robusto”.<br />

A ciência do Modo 2, concluem Gibbons, Nowotny e colegas, é cada vez mais uma<br />

empresa coletiva. Uma empresa que funciona por projetos e que se faz por meio de team e<br />

network. A produção de conhecimento envolve um número crescente de atores não-<br />

acadêmicos e não-cientistas. O Modo 2 seria caracterizado pela emergência de comunidades<br />

híbridas, compostas por sujeitos que se formaram e se socializaram em ambientes diversos,<br />

com normas e ethos diferentes, que devem aprender a conviver com estilos de pensamento<br />

diferentes. No Modo 2, é fundamental saber atravessar confins institucionais e disciplinares,<br />

trabalhar nas interzonas destes. <strong>As</strong> palavras-chave, como em grande parte do trabalho ligado à<br />

informação e conhecimento, são “mobilidade”, “flexibilidade”, “capacidade de falar diferentes<br />

linguagens”.<br />

Ao mesmo tempo, porém, os confins institucionais tradicionais não desaparecem,<br />

impondo ao pesquisador o estresse típico de quem deve habitar mundos diversos. É preciso<br />

saber vender as próprias idéias, retalhar a própria pesquisa sob medida em função das<br />

exigências do financiador. Os acadêmicos, em muitos casos, assumem o papel de problem-<br />

solvers, de mediadores, de consultores. Cidadão típico desse novo tipo de comunidade é o<br />

pesquisador sob contrato temporário que deve conseguir “manter muitos pratos girando ao<br />

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