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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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atores, cientistas e não-cientistas, negociando e construindo a <strong>tecnociência</strong>. A <strong>tecnociência</strong>,<br />

como a basílica de S. Clemente, não fala e não faz sua história apenas “em latim” (o jargão<br />

dos especialistas, a linguagem formalizada, monossêmica, matematizada das ciências exatas)<br />

mas constituindo também documentos em “língua vulgar” (a linguagem e a lógicas das<br />

empresas, dos gestores, dos lobistas) bem como “desenhos em quadrinhos” (a divulgação, a<br />

ciência-espetáculo, as interfaces user-friendly da mercadoria tecnocientífica);<br />

- <strong>As</strong> narrativas e as auto-representações da <strong>tecnociência</strong>, que, no contexto da pesquisa<br />

histórica e sociológica, assumiram freqüentemente a forma de enunciações de ruptura e<br />

mudança, sobre o surgimento de uma “nova ciência”, de um novo “regime de produção” do<br />

conhecimento, de um novo “contrato social”. (A novidade permanente, como veremos no<br />

decorrer do trabalho, é elemento narrativo importante no funcionamento do discurso<br />

tecnocientífico);<br />

- A privatização do saber, que é central na atual relação entre ciência, tecnologia e mercado.<br />

A corrida para a enclosure de base de dados, processos, produtos do conhecimento (genes,<br />

formas de vida, algoritmos) é um aspecto. Um outro é o custo altíssimo das revistas<br />

científicas mundiais e sua concentração nas mãos de poucos editores 92 . Ambos fazem com que<br />

o imperativo da ciência moderna (a comunicação, o acesso livre aos dados, o apoiar-se “nos<br />

ombros dos gigantes”) possa tornar-se uma missão impossível, entrando em conflito direto<br />

com um elemento importante do funcionamento da economia atual: a limitação do acesso à<br />

informação para obter lucro. Por isso, a luta para o open access à informação científica, contra<br />

as patentes e para “libertar o saber científico” passou a fazer parte de setores consistentes da<br />

própria comunidade científica, levando ao surgimento dos projetos de open science e dos<br />

arquivos científicos de acesso livre ou sem peer-review (LASER, 2005).<br />

- <strong>As</strong> novas políticas científicas, que explicitam freqüentemente a exigência de que a ciência<br />

sirva mais diretamente à nação, seja do ponto de vista econômico, ou na resolução de<br />

problemas sociais e ambientais, seja na “luta contra o terrorismo” e no apoio à “segurança<br />

nacional”.<br />

92 Nos EUA, o custo dos livros aumentou, entre 1970 e 1990, quatro vezes. O das revistas científicas, doze vezes no<br />

mesmo período (Bucchi, 2006: p. 62-66). Em 1994, Steven Harnad fez sua famosa “proposta subversiva”: parar de dar<br />

dinheiro às multinacionais da editoria científica, e publicar de graça na rede, como já vinham fazendo os físicos, que<br />

colocavam seus pre-prints na base Arxiv (Scanu, 2004). Em 2001, um grupo de biólogos liderados pelo prêmio Nobel<br />

Harold Varmus lançou a Public Library of Science (PLoS).<br />

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