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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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Quadro 21. O líquen discursivo da atualidade: Rede, retroalimentação e empreendedorismo.<br />

“KYBERNÉTES”<br />

• A sociedade e, nela, a <strong>tecnociência</strong>, funcionam como um grande sistema cibernético: não há um<br />

planejador, um dono, um motorista, nem um único “sistema”, mas uma rede complexa de fluxos de<br />

informação com base nos quais o sistema muda sua performance. Tais fluxos vêm de tudo (demandas<br />

e ofertas no mercado escutadas in real time, opinião pública, dados de laboratórios, reação do<br />

ecossistema a uma determinada aplicação tecnocientífica etc.) e de todos (movimentos sociais,<br />

consumidores, grupos religiosos...). <strong>As</strong> coisas acontecem num fluxo de eventos, dados, mercadorias,<br />

pessoas. A <strong>tecnociência</strong> e as políticas de C&T devem escutar desejos, preocupações, percepções e<br />

reagir conseqüentemente, rapidamente, com transparência e no “diálogo”.<br />

• O governo ajuda, facilita, suscita, dialoga.<br />

• Mobilização total para a <strong>tecnociência</strong>: todos fazemos parte, todos podemos fazer parte, todos devemos<br />

fazer parte.<br />

• A gestão da população e da <strong>tecnociência</strong> não deve dar-se tanto em função de valores transcendentes ou<br />

de princípios absolutos de justiça, bem-comum etc. quanto com base em cálculos sobre os processos<br />

imanentes a serem regulados (um dos grandes temas da governamentalidade). Logo:<br />

a) Mais que o discurso de justiça, o discurso válido para a tomada de decisão política é o discurso da<br />

eficiência técnica;<br />

b) A população é constituída de indivíduos que têm seus interesses, suas demandas, seus objetivos, seus<br />

desejos. Portanto, o governo da população e da <strong>tecnociência</strong> só é eficiente se for capaz de escutar. A<br />

gestão da população e da <strong>tecnociência</strong> devem funcionar com base em conceitos como:<br />

1. FEEDBACK: e-democracy, interatividade, canais de informação e comunicação bidirecionais,<br />

diálogo, engajamento...<br />

2. BOTTOM-UP: democracia “de baixo para cima”, participação social (o governo é “de todos”,<br />

o presidente é “de todos”), inclusão, respeito dos conhecimentos locais, indígenas etc.<br />

3. EMPOWERMENT: as pessoas colocadas em condição de influir nas políticas públicas. No<br />

entanto, normalmente é um refrão discursivo utilizado de forma condicional, para sustentar<br />

outras camadas. Por exemplo, “decidir por si mesmos” funciona se os cidadãos são de boa<br />

qualidade, se receberam os instrumentos indispensáveis para o funcionamento de uma<br />

democracia sã: devem estar “informados”, “motivados”, “conscientes”, “conscientizados”:<br />

para isso, é preciso educar e divulgar (veja: “LUZES” e “SÁBIOS VS IGNORANTES”, cap. 3).<br />

Quadro 22. C&T como empresa: leitmotiv e ligações discursivas.<br />

“CIÊNCIA EMPREENDEDORA”<br />

• A ciência e a tecnologia devem situar-se num contexto de concorrência, tanto interna (entre<br />

pesquisadores e instituições de P&D) quanto externa (entre outras instâncias que querem atenção e<br />

recursos: educação, transportes, segurança...). Pesquisadores e instituições devem competir entre si para<br />

publicar nas melhores revistas, para participar de congressos, para ter mais estudantes, para ganhar<br />

editais, encontrar verbas para projetos, atrair o interesse de empresas e patrocinadores, ganhar o apoio, o<br />

respeito, a confiança. <strong>As</strong> instituições de P&D precisam ganhar a preferência de diversos grupos de<br />

público, em concorrência com outras atividades presentes na agenda política.<br />

• <strong>As</strong> instituições de pesquisa e os pesquisadores devem ser eficientes e eficazes. É preciso encontrar formas<br />

de medir qualidade, produtividade, impacto do que a ciência e os cientistas fazem.<br />

• A ciência empreendedora é uma ciência dúplice, comprometida com dois sets distintos de valores. Por um<br />

lado, as normas clássicas da produção de conhecimento objetivo e universal (mertonianas, veja cap. 1).<br />

Por outro lado, as regras do jogo do empreendedorismo, da comercialização da pesquisa. A ciência<br />

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