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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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Quadro 20. Quando o conhecimento é produzido em co-participação: alguns exemplos (Dados meus, integrados com<br />

Bucchi, 2006: p. 89-97)<br />

Caso Quando e<br />

aonde<br />

Distrofia<br />

muscula<br />

r<br />

Science<br />

shops<br />

<strong>As</strong><br />

leucemia<br />

s em<br />

Woburn<br />

“Caso<br />

Baschiro<br />

tto”<br />

“Caso Di<br />

Bella”<br />

França,<br />

década de<br />

1950<br />

Holanda,<br />

década de<br />

1970<br />

EUA,<br />

década de<br />

1980<br />

Itália,<br />

1997<br />

Itália,<br />

1998<br />

272<br />

Os fatos<br />

A distrofia muscular é uma doença “órfã”: poucos pacientes, poucas chances de<br />

achar uma cura simples, investimentos necessários para pesquisa elevadíssimos:<br />

cientistas e empresas farmacêuticas têm pouco interesse em dedicar-se a esta<br />

patologia. O casal Kepper, cuja criança morre de uma forma rara da doença, criam<br />

uma rede de famílias, estudam toda a bibliografia médica e fundam a <strong>As</strong>sociation<br />

Française contre les Myopathies (Afm). Reúnem dados clínicos, constroem uma<br />

base de dados, fazem propaganda e comunicação pública, até conseguirem, em<br />

1987, organizar uma maratona televisiva para recolher fundos. Em 1990, a Afm<br />

criou Genethon 288 , um gigantesco centro de pesquisa com um orçamento de 17<br />

milhões de Euros/ano, estuda 130 patologias órfãs e identificou 180 genes.<br />

Nascidos durante os movimentos de contracultura estudantil, os science shops eram<br />

constituídos por pesquisadores, em algumas universidades, que abriam um serviço,<br />

para associações e cidadãos, de encomenda de pesquisas ou consultorias<br />

profissionais com preços menores que os de mercado. Hoje, os science shops são,<br />

nos EUA, em muitos países da Europa e da Ásia, uma realidade institucionalizada,<br />

e são oferecidos por universidades e ONGs<br />

Em Woburn, Massachusetts, muitas crianças adoecem de leucemia. Perto das casas,<br />

indústrias descarregam substâncias na água. Os habitantes pedem esclarecimentos,<br />

mas os especialistas de saúde dizem que não há nada de anormal. <strong>As</strong> famílias<br />

estudam, juntam informações, contratam outros especialistas, organizam debates<br />

públicos, vão na justiça, até conseguir a reabertura do caso. Chegam, finalmente, na<br />

cidade pesquisadores do MIT, e os habitantes entregam dados vindo de 5 anos de<br />

monitoramento ininterrupto sobre leucemias e outros tumores. Os cientistas<br />

descobrem assim a “síndrome do tricloretileno”, ligada à poluição industrial.<br />

O casal Baschirotto, lendo um artigo especializado de um cientista suíço, percebem<br />

a descrição da doença rara que matou o filho. Em poucos dias, enviam para o<br />

cientista amostras biológicas do menino e de outros pacientes que conheciam, junto<br />

com um financiamento para as pesquisas. Fundam uma associação para o estudo da<br />

rara doença genética, que consegue acelerar os avanços não apenas financiando<br />

pesquisas, mas também forçando os pesquisadores a colaborar: quando a<br />

competição entre grupos, ou os direitos de propriedade intelectual impediam que<br />

material biológico ou animais para testes fossem acessíveis a todos os cientistas, a<br />

fundação ameaçava cortar o financiamento.<br />

Os oncologistas italianos são obrigados a experimentar uma terapia alternativa para<br />

a cura de alguns tipos de câncer, sob pressão de grupos de pacientes, que<br />

conseguem também uma ordem judicial em seu favor. A cura se revela ineficaz.<br />

288 http://www.genethon.com/index.php?id=184&L=1. Acesso em abril de 2008. Sobre a história da Afm e do<br />

Genethon, veja também Rabinow (1999).

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