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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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espécie de parafuso que avança porque cada hélice, ao avançar (e se quer avançar), deve<br />

sustentar o avanço das outras.<br />

A ciência moderna contribuiu para impulsionar o capital e sempre ganhou impulso<br />

graças a este. No entanto, agora uma parte consistente do discurso da <strong>tecnociência</strong> tende a<br />

pintar a produção de conhecimento como algo automaticamente e intrinsecamente<br />

instrumental. A ciência existiria para o mercado. A racionalidade econômica tende a ser<br />

incorporada no ethos da ciência, a conduzir e moldar sua organização e funcionamento<br />

epistêmico. Um cientista profissional tem que saber lidar não apenas com as normas sociais,<br />

os métodos, os instrumentos conceituais característicos do homem de ciência, mas também<br />

com os do Homo oeconomicus configurado pela governamentalidade neoliberal. Em geral, a<br />

ciência do séc. XXI, neste processo de integração no interior do dispositivo tecnocientífico,<br />

passa a incorporar funções sociais, normas, práticas de laboratório e epistemológicas, estrutura<br />

organizacional e direção em parte diferentes tanto das da época de Galileu ou de Newton,<br />

quanto das dos séculos XIX e XX.<br />

Para estudar tal reconfiguração, analisarei práticas e discursos e enfocarei dois<br />

aspectos. Por um lado, as mutações e modulações nas relações entre aparatos de produção de<br />

conhecimento e capitalismo, junto com as reconfigurações, no interior das instituições de<br />

pesquisa científica, das práticas, das normas sociais, do ethos e das interações entre atores e<br />

instituições relevantes (patrocinadores, policy-makers, pesquisadores, sistema de patentes<br />

etc.). Por outro lado, enfocarei o particular entrelaçamento entre os discursos da ciência, da<br />

técnica e o do capitalismo neoliberal.<br />

Na interseção destes dois eixos reside uma característica central da atual configuração:<br />

o fato de que, na <strong>tecnociência</strong> contemporânea, algumas decisões relevantes – até aquelas<br />

internas ao próprio desenvolvimento da ciência – são tomadas em função de fluxos, reações<br />

e retroalimentações vindo de esferas e setores sociais variados. No <strong>neoliberalismo</strong>, a<br />

<strong>tecnociência</strong> deixa margens e possibilidades mínimas de governance para aqueles que etiqueta<br />

como cidadãos “leigos”, ou para os sujeitos que se situam em conflito com a lógica do lucro.<br />

Apesar disso, empresários, movimentos de opinião e religiosos, associações de pacientes ou de<br />

consumidores, lobbies, sindicatos, movimentos sociais podem todos ter um papel em moldar<br />

não apenas as aplicações da ciência, mas também os debates internos e o laboratório<br />

conceptual tecnocientífico. Na ciência contemporânea, a comunicação interna (entre<br />

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