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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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Ruy Sardinha Lopes também considera equivocada a postura, “por vezes deliberada, de<br />

se tratar como estritamente técnicas questões necessariamente políticas”, que leva a atribuir às<br />

novas tecnologias o papel de agentes de transformação social (Lopes, 2008: p. 26). Para ele,<br />

embora não haja dúvida de que uma mudança está acontecendo, é errado eleger as novas<br />

tecnologias como agentes da mudança:<br />

Afirmar [...] a centralidade econômica das TICs, da informação e do conhecimento nos<br />

dias atuais é reconhecer que o capitalismo – movido por suas próprias crises e<br />

conflitos entre capital e trabalho e não podendo mais valorizar-se, como antes, na<br />

esfera da indústria propriamente dita – foi obrigado a espraiar-se para áreas mais<br />

imateriais [...] ou a ver na financeirização uma excelente oportunidade, ainda que<br />

episódica, de ganhos fáceis. [...] Mas, se do ponto de vista do trabalho ou da força de<br />

trabalho, a revolução tecnológica em curso pôde implicar mudanças significativas, [...]<br />

isso não significa necessariamente que, do ponto de vista do capital muita coisa tenha<br />

mudado [...]. Hoje como dantes, trata-se de trabalho de tipo capitalista,<br />

essencialmente trabalho assalariado, objetivando a valorização do capital (Lopes,<br />

2008: p. 26-27).<br />

Para Lopes, a proposta de autores como Castells (1999), de que as redes implicariam uma<br />

forma de organização intrinsecamente menos hierárquica e centralizadora, contribuindo para<br />

que o capitalismo e a sociedade se tornem mais democráticos e inclusivos, deve ser<br />

problematizada. <strong>As</strong> TICs e a “sociedade em rede” não são automaticamente portadoras de<br />

emancipação, afirma Lopes. <strong>As</strong> tecnologias “não possuem valor intrínseco ex antes, mas<br />

determinam-se e devem ser avaliadas a partir de suas articulações com determinadas<br />

instituições e convenções sociais [...]. Não é, pois, por imperativos tecnológicos, mas em nome<br />

de determinados interesses, que políticas públicas são sancionadas, que desregulamentações e<br />

privatizações são adotadas [...], que direitos de propriedade intelectual são impostos, que<br />

determinados padrões tecnológicos são implementados” (Lopes, 2008: p. 28).<br />

O objeto específico desta tese não são as relações entre capital e trabalho na atualidade,<br />

nem entre as tecnologias da informação e as formas (velhas ou novas) de apropriação e<br />

valorização do conhecimento 41 . No entanto, esse conhecido – e aquecido – debate é de grande<br />

interesse (e de importância política extrema). Para nossa análise aqui, é interessante a própria<br />

41 Para uma discussão crítica aprofundada, veja Lopes (2006).<br />

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