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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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os outros e exige uma rearticulação, um reajustamento. Por outro, há um processo de<br />

perpétuo “preenchimento estratégico”:<br />

Tomemos o exemplo do aprisionamento, dispositivo que fez com que em determinado<br />

momento as medidas de detenção tivessem aparecido como o instrumento mais<br />

eficaz, mais racional que se podia aplicar ao fenômeno da criminalidade. O que isto<br />

produziu? Um efeito que não estava de modo algum previsto de antemão [...].<br />

Este efeito foi a constituição de um meio delinqüente, muito diferente daquela<br />

espécie de viveiro de práticas e indivíduos ilegalistas que se podia encontrar na<br />

sociedade setecentista. O que aconteceu? A prisão funcionou como filtro,<br />

concentração, profissionalização, isolamento de um meio delinqüente. A partir mais ou<br />

menos de 1830, assiste−se a uma reutilização imediata deste efeito involuntário e<br />

negativo em uma nova estratégia [...]: o meio delinqüente passou a ser reutilizado com<br />

finalidades políticas e econômicas diversas (como a extração de um lucro do prazer,<br />

com a organização da prostituição). É isto que chamo de preenchimento estratégico<br />

do dispositivo. (Foucault, 2006, MP: p. 245, grifos meus).<br />

A <strong>tecnociência</strong>, maquinando no interior de uma racionalidade governamental neoliberal,<br />

constituindo sujeitos, produzindo objetos técnicos, também constitui um meio. Um meio que<br />

é um ecossistema cibernético, informacional e biopolítico, reticular, em que cada sujeito<br />

investe ativamente sua energia e seus recursos e em que elementos dividuais tendem a<br />

circular, quase inevitavelmente, na correnteza das redes sociais e comunicacionais, produzindo<br />

efeitos, levando a performances, ativando ações e reações diversas.<br />

<strong>As</strong>sim, o dispositivo tecnocientífico – esta seria minha segunda suspeita – embora<br />

impulsione e module o comportamento e os discursos, embora governe tanto de fora para<br />

dentro (técnicas de dominação) quanto de dentro para fora (técnicas de si), não é uma gaiola<br />

de aço rígida, imutável. Aliás, justamente por possuir tais propriedades, a <strong>tecnociência</strong> é, e<br />

deve ser, dinâmica. Entre as instituições e as práticas, os enunciados e os princípios de<br />

verdade que a constituem, há uma relação meta-estável que pode desencadear reinterpretações<br />

e recombinações das práticas e dos saberes, abrindo eventualmente acessos para novos campos<br />

de racionalidade.<br />

Como mostrei no capítulo precedente, ao menos em parte, o discurso e as práticas<br />

sociais inscritas no domínio da governamentalidade e da <strong>tecnociência</strong> falam de participação,<br />

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