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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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eferências ligados a grupos disciplinares específicos (os físicos, os químicos, os biólogos). Há<br />

uma distinção forte entre ciência teórica e experimental e entre ciência de base e aplicada. Ao<br />

contrário, o conhecimento de Modo 2 é tipicamente transdisciplinar 88 , porque se interessa por<br />

problemas a resolver ou necessidades a satisfazer (sobre aquecimento global ou sobre<br />

imigração, sobre desemprego ou cultivos mais produtivos). Portanto, o pesquisador de Modo 2<br />

deve integrar habilidades e competências diferentes, e incorporar normas vindo de diferentes<br />

grupos envolvidos no processo de produção do conhecimento.<br />

3. Organização<br />

A produção de conhecimento do Modo 1 é profundamente institucionalizada. Sua base<br />

preferencial é a academia. No Modo 2, o conhecimento pode ser criado em uma multiplicidade<br />

de lugares e em variados contextos organizativos: não somente universidades e laboratórios<br />

governamentais, mas também ONGs, fundações, empresas, think-tanks etc. Grupos e redes de<br />

pesquisa são dinâmicos, interdisciplinares e mudam cada vez que novos temas ou problemas<br />

assumem relevância social, política, econômica. Por causa do “contexto de aplicação”,<br />

“cientistas sociais trabalham juntos com aqueles das ciências naturais, com engenheiros,<br />

advogados e businesspeople, porque a natureza dos problemas exige isso” (Gibbons et al.: p.<br />

7; trad. minha) 89 .<br />

4. Responsabilidade com a sociedade e reflexividade<br />

O conhecimento de Modo 1 é retratado como neutral, não-político, “puro”. É somente sua<br />

aplicação que pode ser “boa” ou “má”, isto é, que pode ser julgada política e socialmente. A<br />

ciência do Modo 2 seria mais reflexiva: deve necessariamente interrogar-se sobre o valor do<br />

que ela faz, sobre seu impacto e sobre as questões éticas que pode levantar. Também é socially<br />

accountable, ou seja pode ser considerada responsável pelo que causa na sociedade. Como<br />

conseqüência, no Modo 2 não só a “ciência fala para sociedade”, como também “a sociedade<br />

88 “O Modo 2 faz mais que juntar um leque diversificado de especialistas para trabalhar em team sobre problemas […]<br />

No Modo 2 a forma da solução final estará usualmente além da solução dada por qualquer disciplina isolada” (Gibbons<br />

et al., 1994: p. 4-5; trad. minha). A transdisciplinaridade pode então ser definida como o “conhecimento que emerge de<br />

um particular contexto de aplicação, com suas próprias e distintas estruturas teóricas, seus métodos de pesquisa e<br />

modalidades de prática, mas que pode não ser localizável no mapa disciplinar predominante”. A discussão sobre o<br />

significado, as potencialidades e a realidade concreta da prática transdisciplinar é complexa. Para uma introdução à<br />

discussão, veja, por exemplo, Gibbons et al. (1994), p. 27-29; Nowotny (2003); Ferreira e Viola (1996).<br />

89 No Brasil, começam a existir notáveis exemplos desta tendência, no crescimento de grupos de pesquisa e de cursos<br />

de pós-graduação interdisciplinares.<br />

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