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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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questões postas pelo enfrentamento entre Reforma e Contra-reforma são fatores que<br />

impulsionam uma nova reflexão sobre governo e soberania que leva ao surgimento de uma<br />

“razão de Estado”, uma racionalidade governamental em que governar significa muito mais<br />

que saber como manter o principado. Significa saber conduzir a si mesmo e aos outros,<br />

administrar coisas e pessoas de uma maneira oportuna para que aumente a potência do<br />

Estado. Em outras palavras, uma imanência das práticas de governo com relação ao Estado<br />

(Foucault, 2006, MP: p. 280).<br />

A razão de Estado: Economia do poder, poder da economia<br />

Para Foucault, crucial na nova economia de poder é a conexão entre governo de si e governo<br />

dos outros. Aquele que quer governar o Estado deve primeiro saber se governar, governar sua<br />

família, seus bens, seu patrimônio. E, quando o Estado é bem governado, os pais de família<br />

sabem como governar suas famílias, seus bens e seu patrimônio. O elemento central desta<br />

conexão entre governo de si e governo dos outros é o governo da família, que se chama de<br />

economia, no sentido etimológico do termo: oikonomia, disposição, ordenação da casa.<br />

<strong>As</strong>sim, para Foucault, com as teorias dos fisiocratas e com a doutrina econômica<br />

liberal aparece “uma ruptura importante”: surge uma “racionalidade governamental” em que a<br />

finalidade do governo deve ser procurada na perfeição dos processos que ele dirige. Quem<br />

governa deve “dispor as coisas” calculando. (Foucault, MP: p. 282 e segs.). E se o governo é<br />

uma correta disposição das coisas, baseado num cálculo de tipo econômico, o poder do<br />

governante não é limitado somente pela lei divina ou por um contrato social. É necessário<br />

também obedecer a alguns mecanismos de funcionamento imanentes que regulam o<br />

andamento das coisas. Um bom governante é aquele que, para melhor dispor as coisas, sabe<br />

limitar-se. Não é mais o direito de matar, não é o direito de fazer prevalecer sua força que deve<br />

ser essencial a seu personagem (Foucault, MP: p. 285 seg.). A arte de governo, em vez de<br />

fundar-se em um modelo cosmológico ou em um ideal filosófico-moral, deverá encontrar os<br />

princípios de sua racionalidade também naquilo que constitui a realidade específica do Estado.<br />

O afirmar-se desta razão de Estado corresponde à desestruturação do estado de tipo<br />

feudal e ao surgimento de grandes monarquias administrativas, cujo governo tem como<br />

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