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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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potencialmente subversivos. Em nome da ciência pode-se dizer tudo, porque ela (em seu auto-<br />

retrato dominante) é objetiva, livre do poder, imune à ideologia. Em nome do progresso se<br />

pode fazer tudo, porque o progresso é ao mesmo tempo necessário (só se sobrevive<br />

avançando, evoluindo, se adaptando… sendo “proativos” e “empreendedores”), desejado (as<br />

coisas melhoram quando aumentam as possibilidades de escolha e os instrumentos técnicos) e<br />

inevitável (o Progresso é o futuro).<br />

Antibióticos e vacinas funcionam. Salvam milhões de pessoas. <strong>As</strong> células-tronco<br />

salvarão, um dia, milhões de pessoas. Com base em fatos como estes, se argumenta que os<br />

grãos transgênicos produzidos nos EUA não devem ser rotulados. Podem ser misturados com<br />

os demais e exportados impedindo a escolha e o eventual boicote do consumidor europeu.<br />

Quem colocar este “fato” em discussão estará colocando em discussão antibióticos e vacinas,<br />

com base na argumentação de que sempre houve, em todas as épocas, pessoas que têm “medo<br />

do novo”, que são “contra o progresso”, contra a ciência, a favor do “irracionalismo”.<br />

O mercado de produtos tecnocientíficos se defende da política e da negociação social,<br />

que deviam ser intrínsecas a seu funcionamento e regulação, por meio de cadeias<br />

argumentativas em que todos os elementos do dispositivo são mobilizados. A verdade da<br />

ciência confere inevitabilidade e (imunidade) à escolha específica de um determinado modo de<br />

produção, ou a uma forma de organização social. A indiscutível potência da tecnologia<br />

contribui para justificar regulações do mercado e acordos internacionais que nada têm de<br />

“técnicos” ou científicos. Os acordos TRIPs 308 não são “a” maneira de incentivar a inovação,<br />

não são a mais eficiente “técnica” para criar um ambiente aconchegante para avanço da<br />

ciência ou proteger a propriedade intelectual. São uma escolha específica, coerente com uma<br />

determinada economia de poder, sobre quem deve ganhar, quando, sobre que tipo de produtos<br />

e processos. Mas criticar os TRIPs e as patentes sobre fragmentos de DNA significa<br />

obstaculizar o desenvolvimento econômico, o progresso técnico e, sobretudo, a pesquisa<br />

científica.<br />

Numa primeira análise, então, parece que dispositivos específicos (escola, prisão,<br />

hospital etc.) possuem funções estratégicas específicas, atingindo diretamente o corpo e a alma<br />

dos sujeitos ou a vida da população, enquanto a <strong>tecnociência</strong>, analisada como meta-<br />

dispositivo, parece servir para garantir ao conjunto dos demais dispositivos de poder<br />

308 Veja par.1.7.1.<br />

302

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