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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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criado tais objetos, é só por meio da inventividade humana que podem ser usados para<br />

processos e produtos industriais 71 .<br />

Na Europa, as resistências em aceitar a nova visão sobre o que pode ser apropriado<br />

monopolisticamente como invenção humana são foram muito maiores. Mas, em 1990, o<br />

Escritório Europeu de Patentes, depois de um ano de pressões e polêmica, aceita a patente<br />

sobre ratos transgênicos. E, em 1997, a União Européia decide alinhar-se ao padrão<br />

estadunidense sobre patentes biotecnológicas.<br />

Se a sentença de 1980, no caso Diamond vs Chakrabarty, foi fundamental para a<br />

transformação do sistema de patentes e para o desenvolvimento do entrelaçamento entre<br />

biotecnologia e grandes corporações, no mesmo ano de 1980 também é aprovado, nos EUA, o<br />

Bayh-Dole Patent and Trademark Laws Amendment, um marco histórico da comercialização e<br />

privatização da pesquisa científica em geral e da transformação do papel das universidades<br />

públicas 72 .<br />

1.7.1 Bayh-Dole e TRIPs: conhecimento, direito, empresa<br />

A Bayh-Dole Act abriu novas fronteiras para a comercialização da pesquisa. A lei, cujo<br />

objetivo explícito era promover a colaboração entre empresas e organizações sem fins<br />

lucrativos, permitia que universidades e laboratórios públicos patenteassem e<br />

comercializassem suas descobertas, ou os produtos derivados de pesquisas, mesmo quando<br />

realizados por meio de recursos públicos. Se antes os resultados da pesquisa acadêmica eram<br />

propriedade do Estado, que podia decidir abri-las para o domínio público, agora as<br />

universidades podiam outorgar licenças de exploração comercial exclusiva para determinadas<br />

empresas 73 (Lander, 2005). Além disso, em 1986, a Federal Technology Transfer Act<br />

71 Se um gene existe na natureza, como pode um homem se proclamar “inventor”, sem nem modificá-lo? Como foi<br />

possível impor a idéia de que as seqüências de DNA naturais são patenteáveis? Os pesquisadores passaram a copiar os<br />

genes, e a tirar algumas moléculas redundantes ou não diretamente ligadas à produção da proteína codificada pelo gene.<br />

<strong>As</strong>sim fazendo, defenderam a idéia de que as cópias dos genes eram criações humanas, que possuíam finalidade de<br />

aplicação industrial, podendo portanto ser protegidas pelo direito de propriedade intelectual. No entanto o tema é<br />

polêmico, no direito como entre os cientistas, e muitos pedidos de patente sobre seqüências gênicas foram rejeitados<br />

nos EUA.<br />

72 Para uma discussão e uma história dos direitos de propriedade intelectual aplicados às ciências da vida, veja, entre<br />

outros, Santos (2007 e 2003: cap. 1-4); Kevles (2007). Sobre a relação problemática entre IPR e produção de<br />

conhecimento, David (1998).<br />

73 Inicialmente a lei Bay-Dohle autorizava a cessão de uma descoberta apenas para a exploração de pequenas empresas.<br />

Em 1983, Ronald Reagan ampliou a aplicação para empresa de qualquer porte.<br />

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