10.06.2013 Views

As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

por seus atos violentos? A recuperação para um traficante de droga dependente químico é<br />

passar um tempo em hospital psiquiátrico?<br />

Além disso, acontecem casos em que o judiciário deve decidir até mesmo o status de<br />

teorias ou fatos científicos. Recentemente, o tribunal de Honolulu, no Havaí foi obrigado a<br />

abrir processo contra o CERN (Centro Europeu de Pesquisa Nuclear), que hospeda o maior<br />

laboratório de física de altas energias do mundo, por causa da acusação de um advogado e ex-<br />

físico de que um novo acelerador de partículas (o LHC, Large Hadron Collider) poderia<br />

transformar a Terra num buraco negro 253 . Nos Estados Unidos, juízes também tiveram que<br />

decidir se o criacionismo pode ser considerado, ou não, uma teoria científica e, portanto,<br />

se deve ser ensinado por professores de biologia. Em 2005, num dos mais recentes processos<br />

deste tipo, entre os que foram chamados para testemunhar sobre o status de teoria científica ou<br />

de religião para a teoria criacionista do “design inteligente”, havia um conhecido filósofo e<br />

sociólogo da ciência 254 .<br />

Em suma, o debate político, a esfera legislativa, a judiciária e a executiva devem cada<br />

vez mais levar em conta e interagir com os dados, o jargão, os métodos, as teorias da<br />

<strong>tecnociência</strong> e, em alguns casos, também devem lidar com suas controvérsias internas. Às<br />

vezes, batalha política e controvérsia científica se misturam de forma ambígua. Lobistas,<br />

empresas, ONGs, partidos precisam de experts que digam que o embrião é (ou não é) uma<br />

pessoa, e que sacrificá-lo é (ou não é) assassinato; precisam que um cientista diga que as<br />

ondas eletromagnéticas emitidas por um telefone celular, ou por uma antena, ou uma linha de<br />

alta tensão fazem (ou não fazem) mal à saúde; que o efeito estufa não existe; ou que existe,<br />

mas o petróleo pode mesmo assim continuar sendo queimado; ou ainda que, pelo contrário, a<br />

catástrofe está próxima. Muitos tecnocientistas emprestam sua voz como consultores e<br />

especialistas em tais debates polêmicos, ou se colocam explicitamente como ativistas.<br />

4.3.3 Cientistas militantes<br />

Embora às vezes sem grande sucesso, os cientistas começam a ser atores midiáticos não<br />

253 Caprara, G. “Il Cern finisce in tribunale: ‘Può distruggere la Terra’”. Corriere della Sera, 30/3/2008. Overbye, D.<br />

“<strong>As</strong>king a Judge to Save the World, and Maybe a Whole Lot More”. New York Times, 29/3/2008.<br />

254 Trata-se do caso Kitzmiller, et al. v. Dover Area School District. A testemunha, o prof. Steve Fuller, bem conhecido<br />

na área dos science studies, declarou que o design inteligente deve ser considerado ciência. Mas o juiz estabeleceu o<br />

contrário: o criacionismo, em todas suas vertentes, deve ser considerado religião, e, como tal, não-ciência. A polêmica<br />

suscitada pelas declarações de Fuller foi, obviamente, notável. Veja, por exemplo, a indignação de Levitt (2006).<br />

245

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!