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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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espaço público, para aumentar exponencialmente, mesmo que de forma efêmera, o valor de<br />

ações na bolsa, para obter apoios para institutos ou novos projetos. O fenômeno é tão<br />

importante que alguns estudiosos afirmam a emergência, no final do século XX, de um “novo<br />

arranjo entre ciência e mídia”, ou de um “acoplamento ciência-mídia” em que a pré-<br />

publicação de afirmações, teorias, experimentos importantes na mídia revoluciona os<br />

mecanismos de peer-review, de teste e falsificação, de atribuição de prioridade,<br />

responsabilidade, bem como a atribuição da reputação científica (Weingart, 1998).<br />

No entanto, a mídia ao avaliar a noticiabilidade de um assunto ou de um acontecimento, utiliza<br />

critérios marcadamente diferentes daqueles usados pelos cientistas ao julgar as contribuições<br />

científicas. Como conseqüência, nas áreas ou em momentos históricos em que a visibilidade<br />

midiática se torna um fator relevante para obter apoio financeiro ou político, as normas<br />

internamente e tradicionalmente incorporadas pela comunidade científica para atribuir<br />

reputação científica podem entrar em atrito com os critérios usados pela mídia para selecionar<br />

histórias relevantes: “proeminência” na mídia e “reputação” entre os pares não são a mesma<br />

coisa, e a primeira pode acabar prevalecendo (Weingart e Pansegrau, 199).<br />

4.4.3 O sensacionalismo dos tecnocientistas<br />

Em alguns casos, os tecnocientistas parecem aceitar o jogo midiático em todas suas<br />

conseqüências. Para vender livros, publicizar sua empresa ou tornar-se cientistas VIP, pisam<br />

no acelerador do hype e do sensacionalismo. Deus e a alma, a vida, a morte e o sexo são os<br />

truques mais usados 266 .<br />

Quando, em 1992, o satélite americano<br />

COBE gravou um mapa da chamada radiação<br />

cósmica de fundo nas microondas e detectou suas<br />

anisotropias (isto é, as microscópicas diferenças de<br />

temperaturas que remontam a épocas remotas do<br />

universo e que representam as sementes primordiais<br />

das galáxias), George Smoot, um dos líderes do<br />

projeto, declarou: “é como estar vendo o rosto de Deus”. Os astrofísicos da Nasa também<br />

gostam de fazer o lançamento das fotografias mais bonitas de seus telescópios sugerindo para<br />

266 Veja também o estudo de Green (1985) sobre o “cromossomo criminoso”.<br />

252<br />

Figura 30. Anisotropia do fundo de radiação<br />

cósmica: o "rosto de Deus" (Foto: COBE)

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