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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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quais os indivíduos gerem e conduzem seu próprio comportamento e constroem uma imagem<br />

de si, são parte importante do governo.<br />

Na problematização foucaultiana, o surgimento da governamentalidade é central para<br />

entender a contemporaneidade: mais que denunciar quando ou porque o Estado surgiria como<br />

máquina de opressão social, é interessante entender os processos de “governamentalização do<br />

Estado”, estudar a governamentalidade como uma racionalidade, um cálculo que, em certo<br />

sentido, apropria-se do Estado.<br />

No entanto, tal passagem não significa o fim da soberania, mas seu diferente<br />

fundamentar-se. Analogamente, a disciplina está longe de ser eliminada, mas muda seu modo<br />

de organização:<br />

Trata−se de um triângulo: soberania−disciplina−gestão governamental, que tem na<br />

população seu alvo principal e nos dispositivos de segurança seus mecanismos<br />

essenciais. O que gostaria de mostrar é a relação histórica profunda entre: o<br />

movimento que abala a constante da soberania colocando o problema [...] do governo;<br />

o movimento que faz aparecer a população como [...] objeto da técnica de governo; e<br />

o movimento que isola a economia como setor específico da realidade e a economia<br />

política como ciência e como técnica de intervenção [...]. Governo, população,<br />

economia política [...] constituem [...] um conjunto que ainda não foi desmembrado.<br />

(Foucault, MP: p. 291)<br />

No interior da sociedade de soberania, o direito havia se constituído como um princípio de<br />

limitação externa. Com a economia política aparece um princípio de limitação interna. A<br />

biopolítica coloca para o governo uma nova questão: como fomentar ou dificultar processos,<br />

aumentar ou diminuir probabilidades, manipular e modular parâmetros e fluxos para que, em<br />

média, as coisas fiquem do jeito desejado. O meio social aparece como um campo de<br />

intervenção onde a população pode ser afetada. Por exemplo, diz Foucault, quanto maior é o<br />

amontoar-se da população num bairro, mais miasmas e enfermos haverá. Logo, quanto mais<br />

enfermos, mais mortos. Quanto mais mortos, mais cadáveres, e conseqüentemente, mais<br />

miasmas. Manipular a geometria das cidades e modular os fluxos de pessoas e mercadorias<br />

pode ser então uma forma de governo mais eficiente do que tentar controlar cada indivíduo.<br />

A questão passa a ser não tanto como impedir, proibir, bloquear fenômenos como<br />

carestia, escassez, violência, mas como construir um “dispositivo que, conectado à própria<br />

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