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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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1.1. Bad boys da ciência<br />

Em dezembro de 2000, ele é o “cientista do ano” para a revista Time. A foto e o título de capa<br />

são emblemáticos: John Craig Venter, vestindo metade preto e metade branco, é um “bad boy<br />

da ciência” que está causando uma “revolução biológica” (Lemonick, 2000) 26 . Uma gravata<br />

colorida separa metade de um imaculado avental de laboratório (no lado direito do corpo), de<br />

um elegante blazer escuro, de executivo, que cobre o lado esquerdo do cientista. Venter é isso:<br />

um bem resolvido Visconde partido ao Meio. É cientista e manager, empreendedor e<br />

tecnólogo, homem afeito a navegar as águas opacas da política e das finanças, aquelas<br />

turbulentas da corrida para o patenteamento de descobertas e invenções, e ainda as ondas<br />

cristalinas e salgadas do Caribe, a bordo de seu veleiro – o Sorcerer II 27 .<br />

A história de Craig Venter é a de um bem sucedido Homo scientiae oeconomicus.<br />

Venter começa sua carreira num dos maiores centros de pesquisa pública dos EUA, The<br />

National Institutes of Health. Mas logo decide tornar-se um free-lance da ciência. Em 1992<br />

funda “TIGR”, The Insitute for Genomic Research, companhia privada non-profit destinada a<br />

ficar famosa pelo seqüenciamento do primeiro genoma completo de um organismo vivo, a<br />

bactéria Haemophilus influenzae 28 . Em 1998, Venter cria a famigerada Celera Genomics, cujo<br />

nome – celer: em latim, rápido – é uma missão. Com a ajuda de um supercomputador<br />

embutido com dados de trezentas máquinas seqüenciadoras (custo: trezentos mil dólares cada)<br />

e de um método genial (shot-gun: estourar o DNA em milhares de fragmentos e tentar<br />

recompor a ordem graças a softwares sofisticados), Celera consegue desafiar o consórcio<br />

internacional do Human Genome Project (HGP) financiado com recursos públicos e composto<br />

por centenas de cientistas. Em menos de três anos, Venter e seus colegas conseguem o feito<br />

que o HGP pensava alcançar numa década: a seqüência do genoma humano completo. Em 26<br />

de junho de 2000, numa extraordinária coletiva mundial organizada por Bill Clinton e Tony<br />

26 Parte do material conteúdo neste capítulo é a reelaboração de uma abordagem preliminar publicada em meu livro<br />

sobre comunicação da ciência: Castelfranchi & Pitrelli (2007), cap. 1.<br />

27 Sorcerer: “o feiticeiro”, um dos símbolo antigos para o discurso da <strong>tecnociência</strong>, como veremos no cap. 3.<br />

28 Até então eram conhecidos alguns genomas completos, mas apenas de vírus, isto é, não de organismos vivos. O<br />

status do vírus é interessante. É um sistema biológico feito de proteínas e DNA e dotado de características típicas da<br />

vida como a de se propagar e de evoluir. Porém, um vírus não come, não possui metabolismo, não constrói seu corpo,<br />

não pode se reproduzir senão injetando seu material genético em células vivas, que passam a replicá-lo.<br />

25

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