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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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como imune, externa aos valores políticos e aos interesses econômicos, permanece enraizado,<br />

tanto na auto-imagem de muitos cientistas, quanto na retórica da divulgação (tema de que<br />

tratarei em detalhe no cap. 3).<br />

Em segundo lugar, a “fronteira infinita” de Bush é central porque, ao explicar o peso<br />

da pesquisa de base, o cientista não se limitava a dizer que esta era importante por ser<br />

precursora ou estimuladora do avanço tecnológico. Ele recorreu a uma metáfora econômica.<br />

Uma analogia que, hoje em dia, já se parece menos uma metáfora do que a incorporação de<br />

uma racionalidade específica, a atuação de um dispositivo concreto que regula produção,<br />

apropriação e circulação do conhecimento:<br />

A pesquisa de base conduz a novo conhecimento. Ela fornece o capital científico.<br />

Cria o fundo a partir do qual devem ser sacadas as aplicações práticas. Novos<br />

produtos e processos não aparecem prontos e maduros. Eles estão fundados em<br />

novos princípios e novas concepções, que, por sua vez, são desenvolvidas, a custa de<br />

muito suor, pela pesquisa nos mais puros domínios da ciência […] Não podemos<br />

mais depender da Europa como fonte primária deste capital científico. […] Como<br />

podemos incrementar tal capital científico? (Bush, 1945; trad. e grifos meus).<br />

O pós-guerra seria marcado, nos EUA e na Europa, pelo welfare, pela intervenção e controle<br />

maciço dos estados capitalistas sobre seus mercados. E um tecnocientista atento como Bush<br />

podia enxergar no conhecimento científico de base ao mesmo tempo um capital (importante<br />

para a construção de empregos, inovação, bem estar) e um capital cuja criação inicial cabia<br />

não à iniciativa privada, mas, de forma essencial, ao Estado. Por outro lado – talvez um lado<br />

que Bush não previu – no momento em que o conhecimento passava a ser pensado como<br />

capital, também devia passar a ser gerido e apropriado de acordo com a lógica do capital.<br />

1.3. Capitalismo e conhecimento<br />

Pensar (e “vender”) a ciência como um capital permitiu a Vannevar Bush vencer sua batalha:<br />

fazer com que a National Science Foundation surgisse e obtivesse ingentes financiamentos<br />

públicos para a pesquisa de base, garantindo que sua gestão se desse em grande parte por meio<br />

de mecanismos autônomos, meritocráticos, internos à própria comunidade científica.<br />

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