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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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entrelaçados, funcionam como num líquen em que o conjunto tem propriedades (e identidade)<br />

diferentes em cada uma de suas partes, uma parte se apoiando nos sucessos, na autoridade, nos<br />

efeitos de verdade e na potência das outras. Desta maneira, se universalizaram na forma-<br />

acontecimento que chamei <strong>tecnociência</strong>. Um meta-dispositivo de geometria variável da<br />

governamentalidade, que agora está assumindo sua forma neoliberal.<br />

Segundo Vincent Crapanzano (1986), Hermes – que escolhi como divertissment<br />

alegórico para abrir este trabalho – é (como o etnógrafo) um mediador, um trickster. Os<br />

tricksters, é sabido, são poderosos mas complicados, mutáveis, às vezes um pouco bufões.<br />

Talvez, meu Hermes tecnocientista seja um deus irônico da forma-acontecimento. Criatura da<br />

singularidade e da ruptura, signo do cruzamento singular das forças de imanência com as<br />

potencialidades da recombinação, do finito ilimitado, o Hermes tecnocientista não é um, mas<br />

múltiplo como as versões de seu mito, como a potência de seus significados. Hermes não é<br />

inexorável. Gosta de fazer surpresas. Ciência, tecnologia, capitalismo não estão fusos,<br />

integrados numa forma perene. No caduceu, cetro simbólico de Hermes, múltiplas são as<br />

geometrias variáveis nas quais as espiras das <strong>serpentes</strong> podem ressonar ou dissonar entre si,<br />

envolvendo-se ao redor do <strong>bastão</strong>.<br />

Na época em que visitei S. Clemente, junto com a beleza senti a potência daquela<br />

criação estratificada. Hoje enxergo em S. Clemente um acontecimento. Vejo na basílica a<br />

mesma potência que a cidade de Roma tem – e que talvez seja também um marco da<br />

<strong>tecnociência</strong>. É a potência que existe nos interstícios, na interzona entre ordem e desordem,<br />

entre acaso e necessidade, entre o prescrito e o possível, no limiar do impensado. É a potência<br />

da contingência que se instala numa nova ordem, constituindo uma nova forma-<br />

acontecimento. A potência da recombinação.<br />

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