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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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<strong>As</strong>sim, algumas das dualidades que foram constitutivas da modernidade, a dualidade<br />

orgânico/artificial e a dualidade matéria/energia, se tornam obsoletas. A primeira, ofuscada<br />

pela cibernética, a robótica, o teletrabalho, a engenharia genética. A segunda (que já havia<br />

feito um palimpsesto da dicotomia corpo/alma) foi vencida pela relatividade einsteiniana e a<br />

revolução informática e acabou se sobrepondo ou sendo substituída pela nova dicotomia da<br />

contemporaneidade: informação/matéria.<br />

Leitmotiv marcadamente “genealógico”, o da informação e da rede, porque reconfigura<br />

o substrato de formação do saber contemporâneo e atravessa como uma flecha a concepção do<br />

poder e a constituição e representação do self. O poder da atualidade, mais do que nunca,<br />

emerge como retículo de forças e como relação. É um poder que se exerce pela aplicação de<br />

força repressiva, mas também (ou sobretudo) pelo comando, o controle e a produção da<br />

informação. A constituição dos sujeitos é pensada hoje como algo fundamentalmente<br />

relacional (não existe sujeito absoluto) e informacional (o sujeito é pensado como existindo,<br />

sentindo, atuando a partir da troca de informações no interior de seu corpo e com o ambiente<br />

externo). O “empresário de si mesmo” da teoria do capital humano é alguém que, antes de<br />

tudo, possui em si “dados” que podem ser trocados e valorizados economicamente:<br />

conhecimentos, atitudes, skills, características genéticas etc. O próprio comércio é pensado<br />

cada vez mais em termos de informação (branding, marketing) que acompanha (ou ultrapassa)<br />

a troca de produtos materiais.<br />

Tudo se tornou transformação, processamento, rede de trocas materiais ou semióticas.<br />

Para as ciências cognitivas, o cérebro é matéria; a mente, processamento de informação. Para a<br />

biologia molecular, a célula é matéria, mas o DNA que comanda e controla seu funcionamento<br />

é informação. Para a imunologia, células CD4, células T, linfócitos e macrófagos funcionam<br />

numa coreografia complexa de trocas de mensagens. E assim por diante. Como diz Haraway<br />

(1999: p. 58, trad. minha), “o inteiro universo dos objetos que podem ser cientificamente<br />

conhecidos deve ser formulado como um problema de engenharia da comunicação (para os<br />

managers) ou uma teoria do texto (para aqueles que opõem resistência). Ambas, são<br />

semiologias cyborg” 297 .<br />

297 Em outro texto, Haraway enfatiza: “Na segunda metade do século XX [...] nós de fato sabemos que somos processos<br />

energéticos, econômicos e informacionais, e nos relacionamos material, semiótica e praticamente com o mundo<br />

biológico, como tais” (“Morphing in the order: Flexible strategies, feminist science studies, and primate revisions”. In:<br />

Strum, S. E Fedigan, L. (Orgs). Primate Encounters. Chicago: Univ. of Chicago Press, 2000. Cit. Em: Santos, 2003:<br />

p. 279-280).<br />

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