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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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convidando a uma linguagem “nua, natural, de significados claros, com uma preferência para a<br />

linguagem dos artesãos e dos comerciantes” (Rossi, 2000: p. 26; trad. minha) – o surgimento<br />

das revistas científicas (Philosophical Transactions e Journal des Savants, 1665) e dos livros<br />

científicos em línguas vernáculas são exemplos marcantes da centralidade da difusão da<br />

informação na consolidação da ciência moderna.<br />

Além disso, a idéia de que a ciência é de todos e para todos faz com que o saber não<br />

seja visto como uma troca entre filósofos naturais nem, menos ainda, entre especialistas nas<br />

universidades.<br />

Em 1666, Marie Meurdrac publicava na França uma Química caridosa e fácil em favor<br />

das damas, o primeiro tratado de química conhecido assinado por uma mulher 186 . Traduzido<br />

em italiano e alemão, o texto, que juntava cosmética, alquimia e medicina, foi um sucesso. Na<br />

introdução, a autora afirmava: os homens ridicularizam sempre o produto do engenho<br />

feminino, mas a mente não tem sexo. Se a mente das mulheres recebesse a mesma educação<br />

que a dos homens, as duas se igualariam.<br />

Vinte anos depois, Bernard de Fontenelle publicava um livro de divulgação sobre o<br />

sistema copernicano e sobre a física dos vórtices cartesiana: as celebérrimas Conversações<br />

sobre a pluralidade dos mundos. O livro era um diálogo galante entre o autor e uma marquesa.<br />

Quase a personificar a alegoria de uma ordem do discurso em que a verdade só era tal quando<br />

por todos compartilhada e testemunhada, a marquesa – protestando contra a idéia de que as<br />

mulheres não entendem e não gostam de filosofia natural – declarava: “O senhor acredita,<br />

então, que eu seja incapaz de conhecer os prazeres que se encontram exclusivamente na razão?<br />

Provarei o contrário: me fale sobre suas estrelas...”. Estava à mostra mais um pilar do discurso<br />

tecnocientífico: o conhecimento científico é o símbolo da própria razão. Deve se<br />

universalizado. É a luz que pode iluminar homens, mulheres e povos, e livrá-los da escuridão e<br />

da superstição.<br />

186 Se não considerarmos os textos atribuídos à lendária alquimista Maria (ou Mirian), “a Judia”, tida por alguns como a<br />

irmã de Moisés e, por outros, como uma contemporânea de Aristóteles. Ela teria inventando diversos aparatos<br />

alquímicos, além do famoso “banho-maria”.<br />

196

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