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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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produção, na publicação e nos recursos investidos) fazia parte da lógica imanente da<br />

Figura 9 . Crescimento exponencial<br />

(gráfico em escala logarítmica) do<br />

número estimado de jornais científicos<br />

no mundo. (Fonte: Price, 1962)<br />

concorrência capitalista e era funcional tanto à<br />

racionalidade e governamentalidade quanto aos<br />

princípios de funcionamento interno da prática de<br />

pesquisa.<br />

Aqui, interessa o aspecto “mecânico” deste<br />

crescimento, e reconhecer que Price havia descoberto<br />

um fato importante. Ao longo de seus primeiros<br />

trezentos anos de atividade, a chamada ciência<br />

moderna 54 crescera com aceleração acelerada, de<br />

forma aproximadamente exponencial (Price, 1962, cap.<br />

8; Price, 1963). O número de revistas que se ocupavam<br />

de ciência, de acordo com os dados do historiador,<br />

tinha passado de dois em 1665 (Philosophical<br />

Transactions na Inglaterra e Journal des sçavans 55 na<br />

França, conhecidos como as primeiras revistas<br />

científicas), para cerca de quarenta mil na década de<br />

1960 56 . O número de pessoas ligadas à pesquisa científica também tinha crescido de forma<br />

exponencial, passando de poucas dezenas no século XVII para uns milhões em meados do<br />

século XX.<br />

54<br />

Consciente do debate historiográfico e sociológico (veja, por exemplo, a polêmica travada por Shapin, 1996), não<br />

utilizarei, neste trabalho, o termo “revolução científica” para o conjunto de processos que levaram, ao longo de quase<br />

trezentos anos, à organização e institucionalização do aparato da ciência moderna. A ciência Medieval (islâmica e<br />

cristã) e a da época helenística foram momentos centrais em que não só foram desenvolvidos os métodos hipotéticosdedutivos,<br />

como também enfocado o papel do experimento, da matemática e do recurso à técnica (Russo, 1996). Por<br />

isso, tratarei a ciência moderna como o sistema e os métodos de produção de conhecimento que se desenvolvem, de<br />

forma gradual e não monolítica, aproximadamente da época de Leonardo da Vinci até a de Lavoisier. Chamarei de<br />

ciência institucional, profissional, acadêmica, aquela que se constitui, com suas normas e seu ethos específico, no<br />

período entre as duas revoluções industriais. A palavra “cientista” surge junto com a profissão de cientista, na década<br />

de 1830 na Inglaterra (veja capítulo 3).<br />

55<br />

Sic. O jornal nasceu em 1665 com a grafia reportada acima. Passou mais tarde a ter a grafia moderna (Journal des<br />

savants) com a qual é mais citado.<br />

56<br />

A contagem de Price de Solla era cumulativa, isto é, quarenta mil não representava o número de revistas existentes e<br />

sim, no censo do historiador, o número total de revistas nascidas (algumas das quais, extintas) ao longo da história.<br />

Como veremos, este tipo de contagem não muda o resultado de base, de crescimento com aceleração acelerada.<br />

51

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