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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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vindo de dispositivos e racionalidades específicas. O crescimento é “inevitável” e fruto de<br />

escolhas. Vive, em certa medida, tanto no “espírito do capitalismo” quanto na imanência dos<br />

mecanismos de produção de conhecimento tecnocientíficos. Por um lado, a aceleração possui<br />

características estruturais. Por outro lado, não existe crescimento exponencial a não ser quando<br />

inexistem fricções e limites de recursos. O crescimento exponencial é algo endógeno,<br />

“fisiológico”, automático, só quando um sistema é constituído, ou imaginado como não tendo<br />

predadores, limitadores, atritos e quando é imaginado como dotado de espaço ilimitado ou<br />

energia à disposição infinita. Não há crescimento exponencial (do PIB, da população, da<br />

ciência, das descobertas) que seja uma “lei de natureza”, a não ser em fases em que todos<br />

podem e são impulsionados a fazer a mesma coisa, por exemplo porque acreditam que há uma<br />

“lei” (da natureza ou do homem) impondo que isso aconteça. Não há aceleração a não ser<br />

quando muitos aceleram na mesma direção. Com bactérias isso é fácil de acontecer (mas<br />

usualmente acaba num colapso, logo ao acabar a comida na placa de Petri). Nos fenômenos<br />

humanos, isso acontece quando mecanismos são<br />

ativados, programados, estruturados a partir de<br />

discursos e racionalidades específicas. O crescimento<br />

da população humana – apesar das previsões de<br />

Malthus e, sucessivamente, de alguns economistas e<br />

ambientalistas até as décadas de 1970 e 1980 –, não é<br />

inevitavelmente exponencial. Da mesma forma, a “lei<br />

de Moore” sobre o crescimento exponencial na<br />

velocidade de cálculo dos chips não é uma lei. É uma<br />

constatação a posteriori de que todos quiseram fazer a<br />

mesma coisa, de forma mais e mais eficiente. É, também, uma decisão, ou talvez um wishful<br />

thinking, devido à constatação de que há uma vantagem competitiva (pela atual configuração<br />

do mercado) para quem consegue acelerar mais que os demais.<br />

A ciência cresceu exponencialmente não porque esta seja a única forma possível para<br />

sua dinâmica e, sim, porque a configuração de forças que agenciava e entrelaçava ciência,<br />

técnicas e mercado pegou a forma em que um crescimento com aceleração acelerada (na<br />

estudada por Foucault é feita da combinação das duas coisas: “maneira de dizer e forma de ver, discursividades e<br />

evidências”. Voltarei ao tema na Parte II, ao analisar, por meio do estudo do discurso, o entrelaçamento da <strong>tecnociência</strong><br />

contemporânea.<br />

50<br />

Figura 8. Crescimento exponencial dos pedidos<br />

de patente na China. Fonte: Bihui e Rousseau<br />

(2005)

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