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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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1989 Kurdistão e Rússia<br />

1996<br />

Epidemia da “vaca<br />

louca”<br />

500 vítimas na explosão de um gasoduto em Ufa (Rússia). O governo<br />

iraquiano usa gases tóxicos contra os rebeldes curdos.<br />

No Reino Unido, começa a ser reconhecida a existência e a gravidade da<br />

epidemia de Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE, no acrônimo inglês),<br />

capaz de causar no homem uma variante da Doença de Creutzfeldt-Jakob,<br />

incurável e letal. O governo inglês comete uma série de erros, tanto na gestão<br />

da crise sanitária, quanto na sua correta comunicação ao público, o que abala<br />

duramente a confiança da população nos políticos e no sistema de C&T. Quase<br />

5 milhões de vacas são abatidas em conseqüência da crise, e ao menos 170<br />

pessoas são vitimadas pela epidemia.<br />

De outro lado, se tudo isso contribuiu para abrir as condições de possibilidade para o discurso<br />

atual, a reticularização capilar dos sistemas de informação e controle e a dinâmica própria do<br />

capitalismo neoliberal (e seu regime de acumulação flexível) modularam um contexto em que<br />

tudo e todos devem estar em conexão interativa, todos devem escutar todos, toda prática<br />

deve dar-se em função da demanda, dos gostos e das tendências do momento. A governance<br />

da <strong>tecnociência</strong> não pode ficar intacta quando toda atividade produtiva – “material” ou<br />

“imaterial”, “industrial”, “cognitiva”, “afetiva”, se queremos usar distinções feitas por alguns<br />

(Cocco et al., 2003; Lazzarato, 2003; Lazzarato e Negri, 2001) e criticadas por outros (Braga,<br />

2004; Husson, 2001; Lopes, 2008) – deve ter seu branding e ser gerida em função de cálculos<br />

de custos-benefícios, de produtividade, de externalidades, de feedbacks.<br />

<strong>As</strong>sim, não na Suíça, mas na Europa toda, nos Estados Unidos e na maioria dos países<br />

centrais e emergentes, no final do século XX surgem práticas, enunciações, visibilidades em<br />

que a ciência não parece mais se fazendo somente no laboratório e na universidade e não<br />

parece apoiar-se apenas em recursos a serem pedidos para os governos e as empresas. A<br />

<strong>tecnociência</strong>, no <strong>neoliberalismo</strong>, parece não ser discutida e negociada somente por meio<br />

daquela que Charles P. Snow chamara de “política fechada”, feita atrás das portas trancadas<br />

dos escritórios de um político ou das salas dos executivos. Pesquisadores e managers de<br />

pesquisa das áreas que mais recebem a atenção, a preocupação e a eventual oposição pública<br />

(in primis, a tríade biotech, infotech, nanotech, mas também os evolucionistas batalhando<br />

contra os criacionistas, os físicos nucleares, os cientistas em luta contra as pseudociências etc.)<br />

se acostumaram a manter um nível alto de vigilância e a monitorar a temperatura do debate<br />

público. Em muitos casos, decidem descer em campo aberto.<br />

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