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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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O primeiro a reconhecer este fato para o sistema ciência foi o próprio Price de Solla na<br />

década de 1960. Ele calculou que, no intervalo de uma só geração, o crescimento exponencial<br />

da ciência devia mostrar mutações. Pois se isto não ocorresse, por volta do ano 2000 chegar-<br />

se-ia ao absurdo de existirem mais cientistas que pessoas.<br />

Hoje, o ano 2000 chegou e o debate sobre o modo como o crescimento se modificou<br />

está ainda aberto. <strong>As</strong> análises bibliométricas e cientométricas não são simples nem<br />

conclusivas, e apontam para direções diferentes dependendo das disciplinas analisadas e do<br />

tipo de parâmetros considerados. Até mesmo a mera estimativa de quantos jornais científicos<br />

existem hoje é polêmica. Para alguns, “ninguém conhece o número exato, mas podem existir<br />

vinte mil ou mais jornais de pesquisa primários” (Bennion, 1994). Goodstein (1993) estima o<br />

número de jornais acadêmicos indexados produzidos hoje no mundo em cerca de quarenta mil,<br />

enquanto Tenopir e King (2000) dizem que poderiam ser “entre 80.000 e 100.000”,<br />

publicando mais de um milhão de artigos por ano 68 . Alguns acham que o crescimento de tipo<br />

exponencial chegou a seu ponto de inflexão na década de 70 (Goodstein, 1994), ao menos nos<br />

Estados Unidos e nas áreas de exatas. Para Cerroni (2006), desde a primeira metade dos anos<br />

70, o budget dos estados se tornou inferior ao que o sistema ciência precisava. Para outros, o<br />

crescimento parou de acelerar mais ou menos no fim da Guerra Fria. Archibald e Line (1991),<br />

estudando um catálogo específico de jornais científicos, encontraram um declínio no<br />

crescimento do número de títulos a partir da década de 1980.<br />

Também há controvérsia quanto às características do novo regime fisiológico do<br />

sistema ciência. Ele poderia ser caracterizado por um crescimento não exponencial, ou poderia<br />

estar numa situação de “estado estacionário”, em que a fração de população e de recursos<br />

dedicados ao sistema de C&T seria substancialmente constante. Experts em simulação<br />

(Wolfram et al, 1990) chegaram à conclusão de que o crescimento exponencial chegou ao seu<br />

68 É importante ressaltar, porém, que o número de jornais indexados pela ISI Web of Science, o sistema responsável<br />

para calcular e estabelecer o fator de impacto e o citation index dos jornais mais prestigiados mundialmente, é bem<br />

conhecido e relativamente pequeno. Em 2008, eram cerca de oito mil e setecentos os jornais indexados no ISI (dos<br />

quais pouquíssimos brasileiros). Embora este número cresça de várias dezenas a cada ano, seu aumento não é<br />

exponencial, porque limitado pela seleção efetuada pela própria equipe da ISI. Além disso, a estimativa é de que apenas<br />

três mil revistas no mundo hospedam 75% dos papers que são publicados no planeta e 90% daqueles que acabam sendo<br />

citados por alguém (trata-se da chamada “Lei de Bradford”). Um número ainda menor de jornais, trezentos, publica a<br />

metade de tudo que no mundo é citado por alguém. Portanto, a mera contagem do número total de revistas científicas<br />

que existem no mundo pode não ser um indicador inteligente da dinâmica de aceleração (ou desaceleração) da<br />

produção científica.<br />

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