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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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defender a importância de suas pesquisas. Walter Döllinger, funcionário do Ministério da<br />

Pesquisa, declarava que a comunidade científica e a indústria eram culpados pelo<br />

afrouxamento do apoio político à pesquisa em genômica 231 . Em 2001, na Suíça, acontecia algo<br />

parecido: o presidente do Conselho Suíço de C&T declarava que os cientistas precisavam “de<br />

um lobby” 232 . Um mês depois, os físicos europeus organizavam uma exposição em Bruxelas,<br />

no interior do Parlamento Europeu, lançando uma campanha para defender a construção de<br />

ITER, gigantesco, caríssimo reator termonuclear internacional destinado a testar a viabilidade<br />

da fusão nuclear como fonte de energia.<br />

Em novembro de 2006, nos Estados Unidos, uma coalizão de grupos de pressão<br />

ligados à pesquisa biomédica festejava algo que considerava um triunfo: o Animal Enterprise<br />

Terrorism Act estabelecia que as ações ilegais de ativistas para os direitos dos animais deviam<br />

ser punidas como atos de “terrorismo doméstico”. E assim por diante: o prestígio, a autoridade<br />

e a liberdade de manobra, em suma, se mantêm não somente por meio da construção de<br />

verdades científicas, mas também por meio da sedução, do marketing, do branding e da força<br />

bruta. Quem (pesquisador, ou instituição) não conseguir explicar suas razões, corre sério risco<br />

de ver encerrar seus projetos e planos para o futuro. É o que aconteceu, por exemplo, com<br />

aquele que devia tornar-se o maior acelerador de partículas elementares do mundo, o SSC<br />

(Superconducting Super Collider), fechado pelo Congresso americano porque considerado<br />

caro e inútil (Castelfranchi e Pitrelli, 2007: p. 84-85). E é o que estava acontecendo em França<br />

em 1994. Quando a empresa norte-americana Millennium Pharmaceuticals assinou um acordo<br />

comercial com o mais importante centro público de pesquisa genômica francês, o Centre<br />

d´Etude du Polymorphisme Humain (CEPH), o governo decidiu intervir para impedir que “a<br />

mais preciosa das coisas – algo que nunca tinha sido chamado assim – o DNA Francês, fosse<br />

entregue aos Americanos” (Rabinow, 1999: p. 2 segs, trad. minha). Embora a ciência<br />

genômica possa ter conseguido construir uma cerca para deslocar-se do escrutínio ético e<br />

social (deixando disponíveis para tal escrutínio apenas suas “conseqüências”, Rabinow,<br />

ibidem), há momentos em que a sociedade e a política reivindicam seu papel no governo da<br />

<strong>tecnociência</strong>.<br />

Por isso, o lobbying científico se tornou uma realidade importante nos países que<br />

231 Nature, 402, 16 dezembro 1999: p. 706; Nature 403, 10 fevereiro 2000: p. 584.<br />

232 Science, vol. 294, 16 novembro 2001: p. 1437<br />

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